Não é lógico nem justo analisar Guerra Infinita como
qualquer outro filme. Não existe precedente na história do cinema para o
projeto que começou a ser desenvolvido pela Marvel com o Homem de Ferro e que
agora está completando 10 anos e 19 filmes. Guerra Infinita não é (ou não
deveria) ser o ápice desta jornada, que ainda tem 3 filmes pela frente antes da
total reformulação já anunciada. Com Homem Formiga e Vespa estreando em três
meses e Capitã Marvel em um ano, tudo terá um fim de fato em Vingadores 4, em
maio de 2019. O que se vê no filme que estreia agora nada mais é do que uma
colossal apoteose de todas as sementes plantadas em cada filme do estúdio até
agora. Dizer que o filme é “um sonho nerd” é subestimá-lo, pois ele ultrapassa
em muito as mais otimistas expectativas do fãs do gênero.
A trama todos já sabem a esta altura. Thanos está em busca
das Joias do Infinito (que começaram a aparecer em Capitão América) e os heróis
deste e de outros mundos precisam se juntar para detê-lo. É simples assim. O
que torna Guerra Infinita inesperado e único é um amálgama sem precedentes de
fanservice, quebra de expectativas e ousadia, algo que chamou a atenção
recentemente em O Último Jedi, mas que agora parece pífio em comparação (sem
faltar o respeito com o Episódio VIII, um filme bastante subestimado, apesar de
seus problemas). Isso tudo é possível graças à maestria da direção dos Irmãos
Russo e do roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely. O filme mostra tudo
o que você quer ver, com direito a aparição surpresa de personagem inesperado e
interações que todos esperavam, como a épica batalha dos egos de Tony Stark e
Dr. Strange. O roteiro, porém, surpreende o espectador constantemente e com dez
minutos de filme ele já deixa claro que nada nem ninguém está seguro e que
qualquer coisa pode acontecer.
Os Russo já haviam avisado que este seria o filme do Thanos,
e eles não estavam exagerando. Isso funciona graças a um perfeito casamento
entre um roteiro inspiradíssimo, direção inteligente e uma brilhante
interpretação de Josh Brolin. Thanos é plácido. Não se abala, não tem arroubos
de vilania. Ele sabe exatamente o que quer, o que está fazendo e que sua meta é
imperativa para o bem estar do Universo. Seu maior arroubo emocional é quase
singelo, ainda que profundamente sombrio. Tamanha calma e segurança de Thanos o
torna um dos vilões mais verdadeiramente assustadores das últimas décadas e uma
referência para muitas outras que virão. Thanos é perfeito.
Guerra Infinita é ousado em muitos níveis, mas nada pode ser
discutido sem entregar suas incontáveis surpresas. Ele vai do mais inesperado e
inédito (como sua apavorante conclusão) até algo clássico e praticamente
esquecido, como a simples tradição de ver super-heróis fazendo coisas de
super-heróis, enquanto ouvimos música de super-heróis! (aliás, obrigado Alan
Silvestri!). A maestria dos Russo atinge todos os níveis, inclusive dando uma
aula ao inepto do Taika Watiti ao usar uma tonelada de humor, dosando,
balanceando com magnífica perfeição com os mais simples ou profundos momentos
de drama. Um determinado diálogo entre Thor e Rocket é uma avalanche de piadas
que, ao fim, termina com lágrimas e, surpreendentemente, funciona! Por esse e
outros incontáveis momentos, percebe-se que a característica chave da direção
dos Russo, além do imenso talento, é a maturidade. Depois do abominável
Ragnarok, é um indescritível alívio ver o comando novamente nas mãos de
adultos, dando sequência ao que foi feito no recente e sensacional Pantera
Negra.
Se você conseguir escapar de spoilers, saiba que
absolutamente nada será capaz de prepará-lo para Vingadores: Guerra Infinita. Se
ele tem, não um defeito, mas uma ressalva, é que provavelmente ele terá um
fragmento do impacto (e do sentido) se visto por alguém que não acompanhou
nenhum filme do estúdio até agora, pois, repetindo o que foi dito no início,
não é um filme comum, mas um dos últimos capítulos de uma épica série de
aventuras. Depois de 38 anos, O Império Contra Ataca finalmente possui um
sucessor: um filme de ação perfeito, com surpresas de arrepiar os cabelos,
profundamente emocional e dramático, uma verdadeira montanha russa de
gargalhadas e lágrimas. Guerra Infinita é o filme de super-heróis impossível,
inconcebível, que jamais poderia ser feito. Mas o tempo... O tempo faz coisas
extraordinárias.
COTAÇÃO:
VINGADORES: GUERRA INFINITA (Avengers: Infinity War, 2018)
Com: Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris
Evans, Scarlett Johansson, Benedict Cumberbatch, Don Cheadle, Tom Holland,
Chadwick Boseman, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian
Stan, Danai Gurira, Letitia Wright, Dave Bautista, Zoe Saldana, Josh Brolin e Chris
Pratt.
Direção: Anthony Russo e Joe Russo
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely
Fotografia: Trent Opaloch
Montagem: Jeffrey Ford e Matthew Schmidt
Música: Alan Silvestri
Um comentário:
E como vc disse, ainda não é o fim.
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