terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Contagem progressiva para Star Wars. Episódio de hoje: SOLO

Por Ricky Nobre


Star Wars é uma franquia muito peculiar em sua cronologia e sua aquisição pela Disney só tornou isso mais bizarro. Se formos pôr em ordem cronológica da história todos os filmes (nem vamos citar as séries), que é como essa maratona está sendo feita, os datas de produção são: 1999, 2002, 2005, 2018, 2016, 1977, 1980, 1983, 2015, 2017 e 2019. Cada fã tem sua própria forma de maratonar, seja na ordem dos filmes, seja também por escolher quais NÃO ver. Desta forma, o quarto filme de nossa maratona foi justamente o mais recente a estrear no cinema. Quando a Disney adquiriu a Lucasfilm e decidiu produzir a nova trilogia, o plano era ter um filme por ano e entre cada episódio principal, produzir uma “Star Wars story”. O primeiro foi Rogue One, muito bem recebido. Depois foi a vez de um filme de origem de Han Solo. Os fãs, porém, não ficaram empolgados com a ideia.

 

Uma tempestade perfeita de erros tornou Solo o único filme de Star Wars a perder dinheiro, num prejuízo estimado de 80 milhões. Escrito por Lawrence Kasdan (roteirista do ep V e co-roteirista dos ep VI e VII) e seu filho Jonathan, Solo foi dirigido pela dupla Chris Miller e Phil Lord, com bom histórico com as animações Tá Chovendo Hambúrguer e Uma Aventura Lego. Os dois acabaram levando o filme para uma direção inesperada, tirando um humor mais escrachado e pastelão do roteiro e repetindo cada take 20 ou 30 vezes, exaurindo elenco e equipe. Quando os produtores se deram conta, o jovem Alden Ehrenreich, que havia apresentado uma ótima versão do personagem Solo nos testes de elenco, estava parecendo o Ace Ventura. 

 

Faltando apenas três semanas para o fim das filmagens, os diretores foram demitidos e Ron Howard (Um Sonho Distante, Apolo 13, Uma Mente Brilhante) foi chamado às pressas. À princípio, ele deveria apenas concluir as filmagens e refilmar algumas cenas. Howard acabou por refazer 80% do filme mas, felizmente, num ritmo bem mais ágil que os diretores anteriores. Obviamente, isso alterou a data de lançamento e estourou o orçamento em praticamente O DOBRO, e essas histórias não fizeram bem às já baixas expectativas do público. Somado ao fato de que o filme anterior, o ep VIII, foi o mais polêmico e talvez o mais odiado filme da franquia, o resultado financeiro de Solo foi desastroso. Mas... e o filme?

 

Solo tem praticamente tudo que se esperaria de uma origem do personagem: como conheceu Chewbacca e Lando, como conseguiu a Falcon, quais foram seus primeiros trabalhos, como foi a tal corrida de Kassel e como ela foi feita em 12 parsecs e como sua personalidade se consolidou. Está tudo lá. Tem bons novos personagens, como Qi'ra, Beckett e L3, a hilária droid revolucionária. Ehrenreich e Glover fazem o melhor trabalho possível para recriar Han e Lando e não há nada a se criticar no trabalho deles. Kasdan trás os diálogos e ações típicos dos personagens e não há dissonância entre estas e as versões clássicas. Ehrenreich, porém, teve a tarefa mais ingrata. O que Harrison Ford criou para o personagem é tão icônico e especial que o espectador, volta e meia, sem querer, acaba lembrando que “aquele não é o Harrison Ford”. Na mesma medida, Ewan McGregor não é Alec Guiness mas... Enfim, pesou mais aqui.

 

Solo tem ótimas cenas de ação (a do trem em particular) e algumas boas surpresas. O todo, porém, não empolga. Não como se espera de um filme de Star Wars. Os planos de uma continuação foram arquivados e até os futuros filmes após a conclusão da saga Skywalker serão repensados. Talvez o grande problema do filme foi seu enorme custo. Saiu por 275 milhões, o mais caro da franquia até hoje, e rendeu mundialmente 392 milhões. Solo deveria ser um filme mais simples, mais barato até mesmo que seu orçamento original de 140 milhões. Solo é uma história simples, um filme de roubo e trapaça clássico com seus simpáticos ladrões, trambiqueiros e canalhas. Talvez o conceito se aplicasse melhor em uma série como a recente Mandalorian. Talvez uma produção mais simples sem a tensão gerada por uma filmagem feita praticamente duas vezes. Talvez... um diretor melhor. Howard faz um cinema muito, mas muito certinho, bem Hollywood padrão. Provavelmente foi isso que levou a Disney a chama-lo para solucionar a tragédia que foi o trabalho dos diretores demitidos, sua capacidade de fazer o que está no roteiro. Certinho. Solo não é, de forma nenhuma, um filme ruim. Mas também não é bom, assim, BOM. É, em última análise, um filme de Ron Howard. E, considerando as circunstâncias, ainda bem.

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