Star Wars é uma franquia muito peculiar em sua cronologia e
sua aquisição pela Disney só tornou isso mais bizarro. Se formos pôr em ordem
cronológica da história todos os filmes (nem vamos citar as séries), que é como
essa maratona está sendo feita, os datas de produção são: 1999, 2002, 2005, 2018,
2016, 1977, 1980, 1983, 2015, 2017 e 2019. Cada fã tem sua própria forma de
maratonar, seja na ordem dos filmes, seja também por escolher quais NÃO ver. Desta
forma, o quarto filme de nossa maratona foi justamente o mais recente a estrear
no cinema. Quando a Disney adquiriu a Lucasfilm e decidiu produzir a nova
trilogia, o plano era ter um filme por ano e entre cada episódio principal,
produzir uma “Star Wars story”. O primeiro foi Rogue One, muito bem recebido.
Depois foi a vez de um filme de origem de Han Solo. Os fãs, porém, não ficaram
empolgados com a ideia.
Uma tempestade perfeita de erros tornou Solo o único filme
de Star Wars a perder dinheiro, num prejuízo estimado de 80 milhões. Escrito
por Lawrence Kasdan (roteirista do ep V e co-roteirista dos ep VI e VII) e seu
filho Jonathan, Solo foi dirigido pela dupla Chris Miller e Phil Lord, com bom
histórico com as animações Tá Chovendo Hambúrguer e Uma Aventura Lego. Os dois
acabaram levando o filme para uma direção inesperada, tirando um humor mais
escrachado e pastelão do roteiro e repetindo cada take 20 ou 30 vezes, exaurindo
elenco e equipe. Quando os produtores se deram conta, o jovem Alden Ehrenreich,
que havia apresentado uma ótima versão do personagem Solo nos testes de elenco,
estava parecendo o Ace Ventura.
Faltando apenas três semanas para o fim das filmagens, os
diretores foram demitidos e Ron Howard (Um Sonho Distante, Apolo 13, Uma Mente
Brilhante) foi chamado às pressas. À princípio, ele deveria apenas concluir as filmagens
e refilmar algumas cenas. Howard acabou por refazer 80% do filme mas,
felizmente, num ritmo bem mais ágil que os diretores anteriores. Obviamente,
isso alterou a data de lançamento e estourou o orçamento em praticamente O
DOBRO, e essas histórias não fizeram bem às já baixas expectativas do público. Somado
ao fato de que o filme anterior, o ep VIII, foi o mais polêmico e talvez o mais
odiado filme da franquia, o resultado financeiro de Solo foi desastroso. Mas...
e o filme?
Solo tem praticamente tudo que se esperaria de uma origem do
personagem: como conheceu Chewbacca e Lando, como conseguiu a Falcon, quais
foram seus primeiros trabalhos, como foi a tal corrida de Kassel e como ela foi
feita em 12 parsecs e como sua personalidade se consolidou. Está tudo lá. Tem
bons novos personagens, como Qi'ra, Beckett e L3, a hilária droid
revolucionária. Ehrenreich e Glover fazem o melhor trabalho possível para
recriar Han e Lando e não há nada a se criticar no trabalho deles. Kasdan trás
os diálogos e ações típicos dos personagens e não há dissonância entre estas e
as versões clássicas. Ehrenreich, porém, teve a tarefa mais ingrata. O que
Harrison Ford criou para o personagem é tão icônico e especial que o
espectador, volta e meia, sem querer, acaba lembrando que “aquele não é o
Harrison Ford”. Na mesma medida, Ewan McGregor não é Alec Guiness mas... Enfim,
pesou mais aqui.
Solo tem ótimas cenas de ação (a do trem em particular) e
algumas boas surpresas. O todo, porém, não empolga. Não como se espera de um
filme de Star Wars. Os planos de uma continuação foram arquivados e até os futuros filmes após a conclusão da saga Skywalker serão repensados. Talvez o grande problema do filme foi seu enorme custo. Saiu
por 275 milhões, o mais caro da franquia até hoje, e rendeu mundialmente 392
milhões. Solo deveria ser um filme mais simples, mais barato até mesmo que seu
orçamento original de 140 milhões. Solo é uma história simples, um filme de
roubo e trapaça clássico com seus simpáticos ladrões, trambiqueiros e canalhas.
Talvez o conceito se aplicasse melhor em uma série como a recente Mandalorian.
Talvez uma produção mais simples sem a tensão gerada por uma filmagem feita
praticamente duas vezes. Talvez... um diretor melhor. Howard faz um cinema
muito, mas muito certinho, bem Hollywood padrão. Provavelmente foi isso que
levou a Disney a chama-lo para solucionar a tragédia que foi o trabalho dos
diretores demitidos, sua capacidade de fazer o que está no roteiro. Certinho.
Solo não é, de forma nenhuma, um filme ruim. Mas também não é bom, assim, BOM. É,
em última análise, um filme de Ron Howard. E, considerando as circunstâncias,
ainda bem.
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