terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Os filmes do Oscar: PASSAGEM – 1 indicação

Por Ricky Nobre

A difícil readequação dos veteranos de guerra à vida cotidiana gerou filmes tão memoráveis e diferentes entre sim quanto Os Melhores Anos de Nossas Vidas (1946), Amargo Regresso (1978) e o primeiro Rambo (1982). Passagem segue essa tradição e, apesar de não ter o impacto de seus antecessores, traz o diferencial de um olhar feminino da diretora, duas roteiristas e da atriz principal que também produz.

 

Extremamente debilitada física e mentalmente após seu veículo ser atingido no Afeganistão, Lyndsey passa semanas em um centro de recuperação, onde precisa reaprender a fazer praticamente tudo, desde falar e escovar os dentes até a andar. Sua recuperação física, porém, não é o foco da narrativa, pois se conclui em 15 minutos de filme. O grande obstáculo de Lyndsey é sentir-se parte da humanidade novamente, de sua família e sua cidade. Mesmo ainda frágil e com crises de pânico, ela tenta convencer seu médico a liberar sua volta ao exército, onde poderá ser realocada. O fato de Lyndsey sentir-se mais à vontade em uma guerra em outro continente do que em sua vida de classe média baixa, ao lado da mãe, é o principal ponto de estranheza que conduz a narrativa. Sua relação com o mecânico James, que também guarda um passado traumático, começa como um alívio e uma janela para a recuperação de ambos, mas que também irá testar o quanto Lyndsey consegue manter uma relação saudável.

 

A direção de Lila Neugebauer procura evitar ao máximo os clichês dramáticos ligados a essa temática da volta de ex-combatentes. É tudo muito sutil, comedido, algo que dá muito certo boa parte do tempo, mas que também acaba tendo um efeito colateral de um certo distanciamento emocional, ainda que apenas parcial. Isso porque a dupla de atores principais, Jennifer Lawrence e Brian Tyree Henry, consegue transmitir o máximo possível as emoções de seus personagens dentro dessa proposta intimista e reservada. Talvez o aspecto mais problemático seja a relação de Lyndsey com a mãe, que é escrita de forma tão básica, com apenas leves sugestões das reais tensões entre as duas, que acaba limitando nossa compreensão do que torna a convivência delas tão problemática. 

 

A forma como a protagonista chega a uma conclusão de suas questões pode parecer simplista, mas é bastante efetiva, conseguindo até dar uma maior clareza a questões nebulosas do roteiro. Ainda que, apesar de uma boa concepção, a condução da diretora seja um tanto falha, Lawrence e Henry seguram o filme com tanto talento, transmitindo ao máximo a emoção de seus personagens, sem sair da proposta estabelecida pela direção, que o resultado final chega a ser positivo, ainda que deixe a impressão de que poderia ter ido bem além.

 

COTAÇÃO: 

 

INDICAÇÃO AO OSCAR:

Ator coadjuvante: Brian Tyree Henry

 

PASSAGEM (Causeway, EUA – 2022)

Com: Jennifer Lawrence, Brian Tyree Henry, Jayne Houdyshell, Linda Emond e Stephen McKinley Henderson

Direção: Lila Neugebauer

Roteiro: Ottessa Moshfegh, Luke Goebel e Elizabeth Sanders

Fotografia: Diego García

Montagem: Robert Frazen e Lucian Johnston

Música: Alex Somers

Design de produção: Jack Fisk

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