Por Ricky Nobre
A inesperada indicação ao Oscar de Andrea Riseborough ajudou demais este pequeno filme independente a sair da bolha dos pequenos circuitos exibidores e ganhar uma grande projeção (potencializada pela polêmica sobre o tipo de campanha que o fez ser indicado). O filme de Michael Morris, em seu primeiro longa-metragem, trata das questões de vício e pobreza nos EUA sem trazer nenhuma novidade para a discussão e, até mesmo, evitando qualquer aprofundamento sob qualquer viés, muito menos o social ou o político. O interesse de Morris parece ser apenas o de acompanhar sua protagonista que tenta ajeitar a vida após ter sido despejada. A sua relação com a família e amigos é muito delicada, pois seu comportamento devido ao alcoolismo, especialmente as mentiras, minaram severamente suas relações e sua rede de apoio.
O que se destaca em To Leslie é que o filme não se furta a arriscar a empatia do público com a personagem, enquanto ela mente e reage raivosamente quando confrontada por amigos e parentes, principalmente o filho, que cresceu bastante traumatizado pela vida desregrada da mãe. Se o filme consegue alguma reflexão para além do corriqueiro, é quando põe em questão até que ponto a reação negativa das pessoas ao redor de um alcoólatra (ou portador de qualquer outro vicio) é didática ou prejudicial à sua condição. Quando seus amigos estabelecem regras rígidas para acolhê-la e a expulsam quando ela as quebra, parece algo bem diferente do que quando elas resolvem humilhá-la publicamente apenas por diversão. O quanto o mal comportamento de alguém nos dá o direto de fazer o que quisermos?
Uma narrativa bem conduzida, com um visual seco e realista, porém muito simples e pouco ousada, tem sua real força, sem dúvida alguma, no trabalho de Riseborough. O filme se apoia nela para conseguir qualquer relevância e, com uma atriz menos capaz no lugar, provavelmente não se sustentaria. Da forma como é, To Leslie é um bom filme sobre as dificuldades e a busca de redenção de uma mulher pobre e alcoólatra no interior dos EUA, onde a total entrega da atriz valida toda a experiência que, em seu melhor momento, sugere a superação de algo tão delicado e difícil não se faz sozinho. É preciso o apoio e a fé de quem nos ama.
COTAÇÃO:
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Atriz: Andrea Riseborough
TO LESLIE (EUA, 2022)
Com: Andrea Riseborough, Owen Teague, Marc Maron, Andre Royo, Allison Janney e Stephen Root.
Direção: Michael Morris
Roteiro: Ryan Binaco
Fotografia: Larkin Seiple
Montagem: Chris McCaleb
Música: Linda Perry
Design de produção: Emma Rose Mead
Nenhum comentário:
Postar um comentário