terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Os filmes do Oscar: IMPÉRIO DA LUZ – 1 indicação

Por Ricky Nobre

Sam Mendes estreou de forma bombástica no cinema em 1999, quando Beleza Americana levou cinco dos principais Oscars, incluindo melhor direção. Desde então, Mendes nunca esteve tão perto do prêmio novamente quanto em 2019 por seu épico de guerra 1917, quando a Academia surpreendeu a todos dando os prêmios mais importantes para o sul-coreano Parasita. Seu mais recente trabalho, Império da Luz, parece ser uma estranha confirmação para os rumores que diziam que Mendes aceitou muito mal a derrota naquele ano, pois o filme reúne várias características de um “oscar bait”. Porém, mais grave e surpreendente, é o quão mal ele administra esses elementos, resultando numa mediocridade inédita na carreira do diretor. 

 

Mendes não parece errar logo de início, e vai introduzindo os elementos um a um, a seu tempo. O ambiente de um velho cinema, com arquitetura art deco, capaz de trazer memórias a qualquer um que cresceu com as salas de exibição pré shopping centers, com suas cores quentes e douradas, parece ser o ambiente perfeito para o encontro de pessoas tão diferentes quanto Hilary, uma senhora branca com problemas de saúde mental, e Stephen, um jovem negro que quer ser arquiteto. Progressivamente, vão se estabelecendo três grandes temas centrais: a nostalgia e o amor pelo cinema, a saúde mental de Hilary e suas recaídas e surtos, e a violência do racismo sofrido por Stephen. O filme segue cativando pelos personagens e o ambiente, porém, a partir da metade, começa a ficar claro que o filme não possui um rumo concreto e que nenhum dos três temas tem um bom desenvolvimento.

 

Em seu primeiro roteiro solo, sendo sua única experiência anterior como roteirista a coautoria em 1917, a impressão é que Mendes pegou o que ele achou que a Academia mais gosta e tentou misturar tudo em um filme só. O que impressiona é que o erro mais provável era que, na ânsia em agradar, ele se atrapalhasse com a riqueza dos assuntos abordados e perdesse o foco. Mas o problema não é esse, e sim que nada é desenvolvido, tudo é incrivelmente superficial e simplista. O tema do cinema, se resume a uma conversa banal na cabine de projeção e uma cena perto do fim, com a exibição de um filme, e mais nada. A saúde mental frágil de Hilary é algo sustentado quase que exclusivamente pelo talento de Olivia Colman, e o racismo se resume a três episódios (o primeiro procura a tensão mas acha o humor involuntário e constrangedor), sendo o último o ponto mais tenso do filme. Mas é tudo tão raso que sugere ou um projeto feito muito às pressas, ou o total desconhecimento dos temas abordados e completo desinteresse em se aprofundar neles antes da fase de roteirização. Sequer a ambientação no ano de 1981 possui qualquer relevância, nem mesmo estética, e ainda que o ambiente de violência racista estivesse em ebulição naquele momento da era Thatcher, não era nada que não pudesse se adequar aos dias de hoje. 

 

Qualquer envolvimento que Império da Luz venha a oferecer, se deve à incrível fotografia de Roger Deakins e ao ótimo elenco, especialmente Colman. Parece absurdo que o desespero por um Oscar (somado a sua inexperiência como roteirista) tenha levado Mendes a perder completamente o rumo e, atirando para todos os lados, não acertasse nada, resultando no pior momento de sua carreira.

 

 COTAÇÃO:


INDICAÇÃO AO OSCAR:

Fotografia: Roger Deakins

 

IMPÉRIO DA LUZ (Empire of Light, EUA – 2022)

Com: Olivia Colman, Micheal Ward, Colin Firth, Toby Jones, Tom Brooke, Tanya Moodie, Hannah Onslow e Crystal Clarke

Direção e roteiro: Sam Mendes

Fotografia: Roger Deakins

Montagem: Lee Smith

Música: Trent Reznor e Atticus Ross

Design de produção: Mark Tildesley

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