Por Ricky Nobre
Já foram feitos filmes sobre o período marcarthista, talvez
o mais vergonhoso da chamada “democracia americana” pós-escravidão. Mas muito
pouco se falou sobre a lista negra de Hollywood que baniu dos estúdios os mais
diversos profissionais do cinema (atores, diretores, roteiristas) por suspeitas
de atividade comunista. Narrar sobre este período centrando-se na figura do
roteirista Dalton Trumbo é de absoluta pertinência. Trumbo liderou uma
resistência ao boicote a partir da, talvez, única categoria que podia fazê-lo:
os roteiristas. Diretores e atores não podiam pisar nos sets, mas os escritores
podiam escrever por pseudônimo. E foi assim que Trumbo conseguiu, mesmo tendo
passado um período na cadeia, ganhar dois Oscars justamente no período mais
rigoroso da perseguição, que, infelizmente, ele não pode ir receber.
O diretor Jay Roach, mais conhecido pelas franquias de Austin Powers e Entrando Numa Fria, pode não parecer o nome mais indicado para
levar esse assunto às telas, porém dois filmes seus para a HBO, Recontagem, sobre a polêmica da eleição
de Bush, e Virando O Jogo, sobre
Sarah Palin, mostraram sua habilidade também em filmes de forte cunho político.
De fato, o filme põe várias questões na mesa, como liberdade de expressão,
liberdade de ideias, contradições entre discurso e prática (um dos amigos de
Trumbo aponta: “você discursa como um radical, mas vive com um rico”) e o
impacto desses acontecimentos nas vidas das famílias.
Quem ama cinema não tem como não se deleitar. Apesar do
assunto denso, há um tom de humor constante, que reflete muito do humor sutil e
a ironia ácida do próprio Trumbo. A recriação do período é excelente e a
personificação de figuras famosas, como John Wayne, Edward G. Robinson, Otto
Preminger, Louis B. Mayer e Kirk Douglas, se equilibra na fina corda bamba da
recriação e da caricatura, atingindo, no limite, o tom exato. Todo o elenco é
excelente, com destaque para Helen Mirren (que desvia com elegância e
inteligência de uma previsível “bruxalização” de sua Hedda Hopper) e o próprio
Bryan Cranston, verdadeiramente brilhante na pele de Trumbo.
O sucesso no resgate do período histórico já coloca Trumbo
no hall dos importantes filmes feitos sobre Hollywood, porém a importância dos
temas nos dias atuais é o que torna o Trumbo especialmente relevante nos dias de
hoje. Vale muito a pena conferir!
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Melhor ator: Bryan Cranston
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