quinta-feira, 15 de março de 2018

TOMB RAIDER: A ORIGEM


Por Ricky Nobre


Pode ser difícil de acreditar, mas lá se vão 22 anos da criação do icônico videogame Tomb Raider, lançado originalmente em 1996 para PC, Playstation e Sega Saturn. Lara Croft, a heroína do jogo controlada pelo jogador, tornou-se a mais famosa personagem de games e o jogo já teve nada menos que 23 edições. Em 2001, uma adaptação com Angelina Jolie teve um sucesso razoável, mas não estrondoso, enquanto sua continuação em 2003 se saiu pior e enterrou a esperada franquia. Enquanto isso, o próprio jogo foi sofrendo modificações. Em 2013, um reboot transformou a heroína auto confiante, super-mulher-indestrutível, com sede de aventuras e trajes sumários em uma mulher mais comum, mais vestida, mais jovem, inexperiente, que grita, chora e sangra e que trocou as pistolas pelo arco. É nesta jovem Lara Croft em formação que se baseia o novo filme.

 

Lara é uma jovem que passa perrengue pra pagar as contas. Herdeira de uma gigantesca fortuna, ela se recusa a assinar os papéis da herança, pois isso seria reconhecer que o pai, desaparecido a sete anos, está mesmo morto. Ao encontrar a pesquisa do pai sobre o túmulo da imperatriz japonesa Himiko, ela resolve seguir seus passos para encontrá-lo, enfrentando uma perigosa organização que deseja o poder macabro de Himiko.

 

O novo filme do norueguês Roar Uthaug possui semelhanças básicas com o primeiro filme de 2001: representa bem o jogo e a personagem em sua época, é divertido mas é bem menos interessante do que poderia ser. Assim como Angelina Jolie foi a perfeita tradução da Lara Croft dos anos 90, Alicia Vikander apresenta uma fiel interpretação da Lara desta década que, apesar das habilidades, inteligência e coragem, está em sua primeira aventura, aprendendo a custo de muito sangue, suor e lágrimas. Se Jolie usou enchimentos no busto já generoso para ficar o mais parecida possível com a personagem digital, Vikander botou bastante músculo no corpo mignon, se parecendo muito com a nova Lara: uma mulher comum com um excelente preparo físico. Ela bate, apanha, corre, pula e se estabaca, mas se estabaca muito. Mas a equipe de maquiagem não a deixa, nem de longe, tão machucada quanto era de se esperar pra tanto estabaco.

 

Estruturalmente, o filme acerta em explorar a personalidade e as habilidades de Lara antes que a aventura de verdade comece, tirando aquela impressão que muitos filmes de ação deixam de “de onde foi que essa pessoa tirou tanto talento pra herói?”. A intenção é a mesma que foi deixada clara no subtítulo brasileiro: é uma história de origem que, se deixa o personagem mais sólido, deixa também a ação mais escassa. Não deixa de ser decepcionante que quando a “caçadora de tumbas” finalmente entra na tumba, falta apenas meia hora de filme. 

 

A ação é competente mas a direção não apresenta nada original ou sofisticado. O humor é leve e sutil, sem atrapalhar a narrativa ou o drama, que tem certo destaque em algumas cenas. Junkie XL, longe das garras pegajosas de Hans Zimmer, traz uma interessante mistura de orquestra e eletrônicos, mas não apresenta um tema musical marcante e presente para Lara Croft, e a canção dos créditos finais acaba ganhando destaque.

 

Como é mais do que comum, o vilão é fraco, provavelmente por ter sido concebido como um pau mandado que só quer sair dali e não tem uma motivação de verdade a não ser “cumprir ordens e poder voltar pra casa”, algo que, com um roteirista inspirado, poderia até funcionar. Mas nem o texto, nem o ator ajudam. O desfecho deixa um gosto bom de franquia futura, com uma Lara mais segura e familiar ao público. Resta saber se será o suficiente para encher as bilheterias ou se é mais uma franquia natimorta baseada em videogames.

 

COTAÇÃO: 


 
TOMB RAIDER: A ORIGEM (Tomb Raider, 2018)
Com: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins, Daniel Wu, Kristin Scott Thomas e Derek Jacobi
Direção: Roar Uthaug
História: Evan Daugherty e Geneva Robertson-Dworet
Roteiro: Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons
Fotografia: George Richmond
Montagem: Stuart Baird, Tom Harrison-Read e Michael Tronick
Música: Tom Holkenborg a.k.a. Junkie XL

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