Por Ricky Nobre
Pode ser difícil de acreditar, mas lá se vão 22 anos da
criação do icônico videogame Tomb Raider, lançado originalmente em 1996 para
PC, Playstation e Sega Saturn. Lara Croft, a heroína do jogo controlada pelo
jogador, tornou-se a mais famosa personagem de games e o jogo já teve nada
menos que 23 edições. Em 2001, uma adaptação com Angelina Jolie teve um sucesso
razoável, mas não estrondoso, enquanto sua continuação em 2003 se saiu pior e
enterrou a esperada franquia. Enquanto isso, o próprio jogo foi sofrendo
modificações. Em 2013, um reboot transformou a heroína auto confiante, super-mulher-indestrutível,
com sede de aventuras e trajes sumários em uma mulher mais comum, mais vestida,
mais jovem, inexperiente, que grita, chora e sangra e que trocou as pistolas
pelo arco. É nesta jovem Lara Croft em formação que se baseia o novo filme.
Lara é uma jovem que passa perrengue pra pagar as contas.
Herdeira de uma gigantesca fortuna, ela se recusa a assinar os papéis da
herança, pois isso seria reconhecer que o pai, desaparecido a sete anos, está
mesmo morto. Ao encontrar a pesquisa do pai sobre o túmulo da imperatriz
japonesa Himiko, ela resolve seguir seus passos para encontrá-lo, enfrentando
uma perigosa organização que deseja o poder macabro de Himiko.
O novo filme do norueguês Roar Uthaug possui semelhanças
básicas com o primeiro filme de 2001: representa bem o jogo e a personagem em
sua época, é divertido mas é bem menos interessante do que poderia ser. Assim
como Angelina Jolie foi a perfeita tradução da Lara Croft dos anos 90, Alicia
Vikander apresenta uma fiel interpretação da Lara desta década que, apesar das
habilidades, inteligência e coragem, está em sua primeira aventura, aprendendo
a custo de muito sangue, suor e lágrimas. Se Jolie usou enchimentos no busto já
generoso para ficar o mais parecida possível com a personagem digital, Vikander
botou bastante músculo no corpo mignon, se parecendo muito com a nova Lara: uma
mulher comum com um excelente preparo físico. Ela bate, apanha, corre, pula e
se estabaca, mas se estabaca muito. Mas a equipe de maquiagem não a deixa, nem
de longe, tão machucada quanto era de se esperar pra tanto estabaco.
Estruturalmente, o filme acerta em explorar a personalidade
e as habilidades de Lara antes que a aventura de verdade comece, tirando aquela
impressão que muitos filmes de ação deixam de “de onde foi que essa pessoa
tirou tanto talento pra herói?”. A intenção é a mesma que foi deixada clara no subtítulo
brasileiro: é uma história de origem que, se deixa o personagem mais sólido, deixa
também a ação mais escassa. Não deixa de ser decepcionante que quando a
“caçadora de tumbas” finalmente entra na tumba, falta apenas meia hora de
filme.
A ação é competente mas a direção não apresenta nada
original ou sofisticado. O humor é leve e sutil, sem atrapalhar a narrativa ou
o drama, que tem certo destaque em algumas cenas. Junkie XL, longe das garras
pegajosas de Hans Zimmer, traz uma interessante mistura de orquestra e
eletrônicos, mas não apresenta um tema musical marcante e presente para Lara
Croft, e a canção dos créditos finais acaba ganhando destaque.
Como é mais do que comum, o vilão é fraco, provavelmente por
ter sido concebido como um pau mandado que só quer sair dali e não tem uma motivação
de verdade a não ser “cumprir ordens e poder voltar pra casa”, algo que, com um
roteirista inspirado, poderia até funcionar. Mas nem o texto, nem o ator
ajudam. O desfecho deixa um gosto bom de franquia futura, com uma Lara mais
segura e familiar ao público. Resta saber se será o suficiente para encher as
bilheterias ou se é mais uma franquia natimorta baseada em videogames.
COTAÇÃO:
TOMB RAIDER: A ORIGEM (Tomb Raider, 2018)
Com: Alicia Vikander, Dominic West, Walton Goggins, Daniel
Wu, Kristin Scott Thomas e Derek Jacobi
Direção: Roar Uthaug
História: Evan Daugherty e Geneva Robertson-Dworet
Roteiro: Geneva Robertson-Dworet e Alastair Siddons
Fotografia: George Richmond
Montagem: Stuart Baird, Tom Harrison-Read e Michael Tronick
Música: Tom Holkenborg a.k.a. Junkie XL
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