Por Ricky Nobre
Winston Churchill é uma das figuras mais biografadas nas
telas. Tanto no cinema quanto na TV, seja como protagonista ou como coadjuvante
essencial em biografias de outros, Churchill foi recriado por grandes atores,
alguns deles memoráveis. O enfoque geralmente é no papel primordial que teve no
comando do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial onde, até hoje, ressoa
como um dos maiores líderes mundiais. Ano passado mesmo, Brian Cox o
interpretou em um filme que passou completamente despercebido (Churchill, de Jonathan
Teplitzky, que se concentra nos dias imediatamente anteriores à invasão da
Normandia) e John Lithgow o interpreta atualmente na série Crown na Netflix,
com rasgados elogios da crítica e público. O que trazer então de novo em mais
um filme sobre o estadista?
O filme de Joe Wright se concentra no período de poucas
semanas antes e depois de Churchill tomar posse como primeiro ministro. Num
momento político delicadíssimo, os partidos conservador e trabalhista se digladiavam
por conta da ameaça de uma guerra que podia ser devastadora para o Reino Unido
e que já começava a se espalhar pela Europa. Defensor ardoroso da participação
britânica no conflito, Churchill precisava considerar a possibilidade de um
acordo de paz com Hitler antes que o pior acontecesse, entre as posições
partidárias, o olhar severo do Rei, o desejo popular e sua própria teimosia.
Gary Oldman não é o primeiro nome que viria à cabeça para
interpretar Churchill, e talvez boa parte do impacto que sua interpretação
causa venha da surpresa do quão bem ele se sai. Para além da pesada maquiagem
que torna Oldman irreconhecível, sua composição do personagem busca uma versão “humana”
da lenda. Assim, vemos um homem repleto de manias, com um senso de humor
mordaz, pouco tato para o trato social e com uma inabalável teimosia. O diretor
Wright opta por utilizar a personagem da secretária Elizabeth Layton (Lily
James) como um elo de ligação com o público, o “cidadão comum” que observa de
perto momentos dramáticos da história mundial se desenrolando diante de si,
ainda que a verdadeira Layton só tenha começado a trabalhar para Churchill um
anos após os eventos apresentados no filme.
Apenas 15 dias após assumir como primeiro ministro,
Churchill já enfrentava uma crise profunda, que já colocava em xeque sua
competência para o cargo, que é a Força Expedicionária Britânica encurralada em
Dunquerque. Aqui, vemos que O Destino de Uma Nação pode funcionar perfeitamente
como um prequel de Dunkirk de Nolan, apesar da diferença radical no estilo dos
dois filmes. Joe Wright escolhe um estilo de direção bastante sóbrio, sem
qualquer novidade, tendo o personagem de Churchill como o motor de todo o
filme.
O Destino de Uma Nação, apesar da poderosa interpretação de
Oldman, não apresenta novidades. Wright já demostrou muito mais talento e
originalidade em filmes anteriores, principalmente no maravilhoso Desejo e
Reparação. A indicação a melhor filme soa mais como um eco anti-Trump da
Academia, como uma leitura do filme no sentido de como um líder, apesar de
possuir uma personalidade complicada, é um líder de verdade ao ouvir seu povo e
considerar o melhor para a nação que comanda. É claro que nessa tentativa de “humanização”
da lenda, fica de fora seu histórico de racismo ao lidar com questões das
colônias, o machismo ao ter se oposto ao voto feminino e a homofobia ao liderar
a caça aos homossexuais que, inclusive, resultou na tragédia do herói de guerra
Alan Tunning, cuja história foi narrada em O Jogo da Imitação. Verdades, para o filme de Wright, bastante inconvenientes.
COTAÇÃO:
O DESTINO DE UMA NAÇÃO (The Darkest Hour, 2017)
Com: Gary
Odlman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Ronald Pickup e Stephen
Dillane
Direção: Joe
Wright
Roteiro: Anthony
McCarten
Fotografia:
Bruno Delbonnel
Montagem: Valerio Bonelli
Música: Dario Marianelli
INDICAÇÕES AO OSCAR:
Melhor filme
Ator: Gary Oldman
Fotografia: Bruno Delbonnel
Direção de arte: Sarah Greenwood e Katie Spencer
Maquiagem: David Malinowski, Lucy Sibbick e Kazuhiro Tsuji
Figurinos: Jacqueline Durran
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