domingo, 4 de março de 2018

Os Filmes do Oscar: O DESTINO DE UMA NAÇÃO – seis indicações


Por Ricky Nobre


Winston Churchill é uma das figuras mais biografadas nas telas. Tanto no cinema quanto na TV, seja como protagonista ou como coadjuvante essencial em biografias de outros, Churchill foi recriado por grandes atores, alguns deles memoráveis. O enfoque geralmente é no papel primordial que teve no comando do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial onde, até hoje, ressoa como um dos maiores líderes mundiais. Ano passado mesmo, Brian Cox o interpretou em um filme que passou completamente despercebido (Churchill, de Jonathan Teplitzky, que se concentra nos dias imediatamente anteriores à invasão da Normandia) e John Lithgow o interpreta atualmente na série Crown na Netflix, com rasgados elogios da crítica e público. O que trazer então de novo em mais um filme sobre o estadista?

 

O filme de Joe Wright se concentra no período de poucas semanas antes e depois de Churchill tomar posse como primeiro ministro. Num momento político delicadíssimo, os partidos conservador e trabalhista se digladiavam por conta da ameaça de uma guerra que podia ser devastadora para o Reino Unido e que já começava a se espalhar pela Europa. Defensor ardoroso da participação britânica no conflito, Churchill precisava considerar a possibilidade de um acordo de paz com Hitler antes que o pior acontecesse, entre as posições partidárias, o olhar severo do Rei, o desejo popular e sua própria teimosia.

 

Gary Oldman não é o primeiro nome que viria à cabeça para interpretar Churchill, e talvez boa parte do impacto que sua interpretação causa venha da surpresa do quão bem ele se sai. Para além da pesada maquiagem que torna Oldman irreconhecível, sua composição do personagem busca uma versão “humana” da lenda. Assim, vemos um homem repleto de manias, com um senso de humor mordaz, pouco tato para o trato social e com uma inabalável teimosia. O diretor Wright opta por utilizar a personagem da secretária Elizabeth Layton (Lily James) como um elo de ligação com o público, o “cidadão comum” que observa de perto momentos dramáticos da história mundial se desenrolando diante de si, ainda que a verdadeira Layton só tenha começado a trabalhar para Churchill um anos após os eventos apresentados no filme.

 

Apenas 15 dias após assumir como primeiro ministro, Churchill já enfrentava uma crise profunda, que já colocava em xeque sua competência para o cargo, que é a Força Expedicionária Britânica encurralada em Dunquerque. Aqui, vemos que O Destino de Uma Nação pode funcionar perfeitamente como um prequel de Dunkirk de Nolan, apesar da diferença radical no estilo dos dois filmes. Joe Wright escolhe um estilo de direção bastante sóbrio, sem qualquer novidade, tendo o personagem de Churchill como o motor de todo o filme. 

 

O Destino de Uma Nação, apesar da poderosa interpretação de Oldman, não apresenta novidades. Wright já demostrou muito mais talento e originalidade em filmes anteriores, principalmente no maravilhoso Desejo e Reparação. A indicação a melhor filme soa mais como um eco anti-Trump da Academia, como uma leitura do filme no sentido de como um líder, apesar de possuir uma personalidade complicada, é um líder de verdade ao ouvir seu povo e considerar o melhor para a nação que comanda. É claro que nessa tentativa de “humanização” da lenda, fica de fora seu histórico de racismo ao lidar com questões das colônias, o machismo ao ter se oposto ao voto feminino e a homofobia ao liderar a caça aos homossexuais que, inclusive, resultou na tragédia do herói de guerra Alan Tunning, cuja história foi narrada em O Jogo da Imitação. Verdades, para o filme de Wright, bastante inconvenientes.

 

 COTAÇÃO:



O DESTINO DE UMA NAÇÃO (The Darkest Hour, 2017)

Com: Gary Odlman, Kristin Scott Thomas, Ben Mendelsohn, Lily James, Ronald Pickup e Stephen Dillane

Direção: Joe Wright

Roteiro: Anthony McCarten

Fotografia: Bruno Delbonnel

Montagem: Valerio Bonelli

Música: Dario Marianelli



INDICAÇÕES AO OSCAR:

Melhor filme

Ator: Gary Oldman

Fotografia: Bruno Delbonnel

Direção de arte: Sarah Greenwood e Katie Spencer

Maquiagem: David Malinowski, Lucy Sibbick e Kazuhiro Tsuji

Figurinos: Jacqueline Durran

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