quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

CREED II: uma franquia que sempre se levanta antes do gongo.


Por Ricky Nobre


A longevidade da série Rocky é verdadeiramente impressionante. Pode ficar muitos anos dormente mas sempre dá um jeito de ressuscitar. Stallone já interpretou diversos personagens brucutus com enorme sucesso, mas nenhum com o fôlego para revivals periódicos como o pugilista com coração de ouro. E por mais improvável que pareça à primeira vista, é justamente esse coração que garante a preferência do público pelo garanhão italiano. Rocky é um cara MUITO legal de quem dá vontade de ser amigo, e revisitá-lo é como rever um velho companheiro. 

 

Depois do grande sucesso da volta de Rocky em 2006, o personagem parecia aposentado pra sempre, quando Ryan Coogler tornou possível injetar sangue novo em 2016 com Creed, onde o filho do falecido Apollo é treinado como pugilista pelo velho Rocky. Muito bem recebido pelo público e crítica, Creed pedia por uma sequência, ainda que o destino de Rocky ficasse dúbio ao final. Mas Rocky não pode morrer, e ele volta agora em Creed II. Mais do que o primeiro, este é um filme de Rocky, mas isso não quer dizer que o personagem título fique à sombra. O jovem diretor Steven Caple Jr. (que assumiu com a saída de Coogler devido ao cronograma de produção de Pantera Negra), realiza um filme muito bem equilibrado, dosando as quantidades exatas de nostalgia, fanservice e atenção aos dramas de cada personagem. 

 

A grande (velha) novidade de Creed II é a volta do pugilista russo Ivan Drago (Dolph Lundgren), adversário em Rocky IV (aquele vergonhoso panfleto da era Reagan), que matou o Apollo Creed no ringue e que agora traz seu filho Viktor (o lutador de MMA Florian 'Big Nasty' Munteanu) para desafiar Adonis e superar a vergonha e esquecimento que passou na Rússia após a derrota para Rocky. O jovem vê uma oportunidade de uma revanche pela morte do pai, mas Rocky vê que é uma péssima ideia e não quer parte nisso. 

 

Nessa trajetória, cada personagem tem que lidar com emoções que os consomem: Adonis, o orgulho; Ivan e Viktor, o ódio e a vergonha; Rocky, a incapacidade de lidar com o afastamento do filho. Creed II dá tão certo, não apenas pelas inúmeras referências a fatos e diálogos famosos de filmes anteriores e pela decisão de Caple Jr.de se entregar sem pudor aos clichês do boxe cinematográfico (que a série Rocky forjou praticamente sozinha), mas principalmente por ser um filme com coração. É um filme muito emotivo, que é muito honesto com os sentimentos dos personagens, estando totalmente em sintonia com o personagem de Rocky.

 

Se o filme falha em algo, é pela forma como a personagem de Ludmilla é usada. Sim, “usada” é o termo. Brigitte Nielsen volta como a (ex) esposa de Ivan e, apesar de uma participação diminuta e apenas um diálogo, é imprescindível para a conclusão da jornada de Ivan e Viktor. O problema é que, para fazer isso, foi descaracterizado todo o pouco que sabemos dela em Rocky IV. Assim, a esposa que apoiou o marido amorosamente ao deixar o ringue após a derrota para Rocky volta como uma típica “heartless bitch” que abandonou o marido e o filho por não conseguir conviver com um “fracassado”. Considerada inexpressiva, a personagem dela é descaracterizada e instrumentalizada para que as de Ivan e Viktor possam se desenvolver. Para fazer isso, um mínimo de explicação deveria ser apresentado que justificasse. Da forma que está, fica muito estranho para quem se lembra bem de Rocky IV.

 

Com uma arrecadação bem semelhante a de seu antecessor, Creed II não deixa dúvidas quanto à produção de um terceiro filme. Um terceiro que pode ter gosto de primeiro, uma vez que Stallone anunciou que este filme é sua despedida do personagem Rocky. Adonis Creed deverá, na próxima produção, sustentar-se por si só. É esperar e torcer. 

 


COTAÇÃO:

 
CREED II (2018)
Com: Michael B. Jordan, Sylvester Stallone, Tessa Thompson, Phylicia Rashad, Dolph Lundgren, Florian 'Big Nasty' Munteanu e Brigitte Nielsen.
Direção: Steven Caple Jr.
História: Cheo Hodari Coker e Sascha Penn
Roteiro: Sylvester Stallone e Juel Taylor
Fotografia: Kramer Morgenthau              
Montagem: Dana E. Glauberman, Saira Haider e Paul Harb
Música: Ludwig Göransson         

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