Quando o ator Ryan Raynolds resolveu capitanear um reboot no
personagem Deadpool (do qual ele havia interpretado uma versão desastrosa em
X-Men Origens: Wolverine), ele decidiu radicalizar em sua transposição para a
tela. Ele seria o mais fiel possível tanto no visual quanto na personalidade e
no estilo não convencional de narrativa, onde o mercenário malucão conversava
constantemente com o público e fazia incontáveis referências aos próprios
quadrinhos da Marvel, à linguagem e ao processo de criação. Surpreendentemente,
a Fox bancou a aposta perigosa de Reynolds e do diretor Tim Miller, resultando
na grande surpresa da temporada. Deadpool foi um enorme sucesso de público,
deixando imensamente satisfeitos tanto os fãs mais radicais quanto o público
casual. Tamanha era a confiança dos produtores que uma continuação foi
confirmada ainda três dias antes da estreia. Deadpool 2 chega às telas não sem
percalços. Miller deixou o projeto por divergências criativas com Reynolds,
entrando em cena David Leitch, que recém estreara na direção com outra
adaptação de quadrinhos: Atômica.
Como umas das maiores surpresas do filme acontece nos
primeiros dez minutos, basta dizer que Deadpool, desiludido da vida, tenta
entrar para os X-Men, mas acaba preso e tendo que proteger um menino mutante da
sanha assassina de Cable, que veio do futuro para evitar a morte de sua
família. A aventura é entremeada por quantidades industriais de referências e
piadas de gostos dos mais variados, para bem e para mal, além de cenas de ação
bombásticas, com um orçamento bem mais expressivo do que o anterior.
Um diferencial deste novo filme é que ele se detém um pouco
mais em momentos mais dramáticos. De fato, alguns momentos trágicos (e um em
particular) são valorizados e o diretor Leitch dá tempo aos personagens de senti-los.
Sim, poucos minutos depois, já se está fazendo piadas com as desgraças, mas o
timing funciona e é algo fiel ao personagem. Mais uma aula pro Waititi (aquele
que resolveu mostrar a queda de Asgard num filme dos Três Patetas) em como
respeitar seus personagens mesmo cercado de zoeiras por todos os lados (não,
este crítico nunca irá parar de falar disso).
Além disso, o roteiro parece ainda mais à vontade em apontar
a metralhadora de piadas e referências para todos os lados. Tem piadas pra todo
mundo, desde o nerd que sabe o número da edição em que cada personagem
apareceu, até pro sujeito que tá só indo ver uma comédia de ação. O elenco é
ótimo, com destaque para o jovem Julian Dennison, que interpreta o órfão
mutante Russell e o sensacional Josh Brolin, que soube tirar o máximo de seu
personagem magérrimamente escrito (apenas Wade e Russell tem alguma
profundidade) e soube fazer um personagem sombrio existir de forma sólida num
filme que foi concebido como pura zoeira. Além disso, existem algumas aparições
surpresa que são a cereja do bolo.
O filme tem alguns problemas. Nem todas as piadas funcionam e algumas podem
exceder o limite do bom gosto (ou da simples graça) dependendo de cada um. É também
um enorme desperdício a triste subutilização da personagem Míssil e da sua nova
namorada Yukio. Aliás, ela não tem absolutamente nada a ver com a Yukio da
Marvel, e lembra muito outra mutante nipônica dos quadrinhos, a Faísca, tanto
em aparência quanto em poder, ganhando o mesmo destino da Míssil, que da
personagem original só tem o nome. Chega a ser tolo que se faça tanta piada com
a falta de X-Men no filme e não se explore os que existem, sendo Colossus e
Dominó os únicos realmente bem aproveitados, e os dois estão, de fato, bastante
divertidos.
Deadpool 2 cumpre seu papel em expandir a zoeira do
original, despejar referências e metalinguagem goela abaixo do público e, ao
final, entregar o que o próprio Deadpool promete no início: um filme família.
Com muito sangue e babaquice, mas ainda assim. Os fãs não vão se decepcionar,
ainda mais com a melhor cena pós créditos de todos os tempos (é sério, a cabine
de imprensa rompeu em aplausos, algo que não se vê todo dia). É, no mínimo, catártico.
Não saia antes dos créditos!
COTAÇÃO:
DEADPOOL 2 (2018)
Com: Ryan
Reynolds, Josh Brolin, Morena Baccarin, Zazie Beetz, Brianna Hildebrand, Julian
Dennison, Shioli Kutsuna, Stefan Kapicic e Karan Soni.
Direção: David
Leitch
Roteiro: Rhett Reese, Paul Wernick e Ryan Reynolds
Fotografia: Jonathan Sela
Montagem: Craig
Alpert, Elísabet Ronaldsdóttir e Dirk Westervelt
Música: Tyler
Bates
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