A Primeira Guerra Mundial não possui uma fração de
“popularidade” da Segunda Guerra, cujos principais eventos são razoavelmente
bem conhecidos. Bem menos conhecida ainda é a extensão e a complexidade da
Primeira Guerra no cenário do oriente médio, que envolveu interesses ingleses,
franceses e russos, a Revolta Árabe e a luta pela manutenção do Império
Otomano. Ambientado em 1916 nos desertos da província otomana de Hijaz, o
diretor estreante Naji Abu Nowar usa o conflito como pano de fundo para mostrar
o dramático e prematuro amadurecimento do jovem Theeb.
Numa tribo de beduínos, Theeb é o mais novo de três irmãos,
filhos do xeique morto há pouco. A chegada de um oficial inglês à procura de um
guia para atravessar o deserto enche o menino de curiosidade, que acaba por desobedecer
ao irmão mais velho e abandonar a tribo para seguir o irmão do meio, que servia
de guia para o oficial, cuja missão não é clara, mas envolvia a contenção de um
perigo eminente para os povos beduínos. Descoberto, não há outra alternativa a
não ser seguir levando o garoto através de um território perigoso.
É fascinante como no cenário da atual era digital, onde grande
parte das mais caras produções abandonou a película em favor dos novos formatos
digitais que, por sua vez, possuem alternativas incrivelmente baratas e
práticas para o cinema independente, diversas produções dos mais variados
níveis de complexidade continuam apostando no filme. Só este ano, tivemos Os Oito Odiados rodado em Super70mm, Star Wars rodado em 35mm e As Sufragistas e Carol, rodados em Super16mm. Naji Abu Nowar e seu fotógrafo
Wolfgang Thaler também apostaram no formato Super16 que, além da leveza e praticidade
das câmeras, enriquece O Lobo do Deserto
com sua textura cinematográfica arenosa, clássica mas ao mesmo tempo crua.
A crítica ocidental apelidou o filme de “western beduíno”,
muito apropriadamente. Os desertos e cânions de Hijaz se tornam palco de uma
luta pela vida, contra a natureza e outros homens, onde “o mais forte come o
mais fraco”, como dizia o pai de Theeb. Praticamente todo interpretado por beduínos
que jamais atuaram, o filme mostra uma força e caráter genuínos, com um ritmo
simples e lento em sua primeira meia hora (que pode deixar alguns espectadores na
dúvida se o filme se resumirá apenas àquilo). Theeb conjura sabe-se de onde
esperteza e forças para sobreviver às mais críticas situações, porém mais
dramáticas são as decisões que precisa tomar, que excedem em muito sua pouca
idade. Os ensinamentos do pai, porém, ecoam como um mapa para o jovem.
Na cena final, com o deserto, os cânions, a estrada de ferro
trazendo drásticas mudanças à vida dos nativos e a bela música de Jerry Lane
com toques de Morricone (tem no Spotify, procurem!) reforçam o celebrado tom de
western. Um filme que fica um tempo grudado na mente, conseguindo ou não o espectador entender por quê.
INDICAÇÃO AO OSCAR
Melhor filme de língua não inglesa (Jordânia)
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