segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar - DIVERTIDA MENTE (duas indicações)



O CREPÚSCULO DO CRÍTICO & DIVERTIDA MENTE
Por Antero Leivas



Ando cansado do Oscar. De verdade. Bem cansado. Não discordo dos filmes em disputa e estarei lá vendo como o faço desde o primeiro ano de transmissão no Brasil. 1977, um período em que a Globo respeitava o telespectador e não criava maus programas, más novelas e etc...


Acho que Spotlight leva a estatueta principal ou Mad Max, como azarão, o resto é DiCaprio, Brie Larson, George Miller e ator coadjuvante o Stallone, lógico. O resto eu não sei (Iñarritu, chega) e não me obrigo mais a saber. Houve uma época em que eu rebuscava as palavras, como certo conhecido, que escreve ao lado de compêndios de filosofia, psicologia e dicionários de cinema. Nunca fiz isso, mas demorava uma hora querendo lapidar o vocábulo por achar que isso enriquecia o texto. Se enriquecer ou não, não vem ao caso. Depois de um tempo, o cinema entra no sangue, faz parte de você, a naturalidade aponta a direção e Freud e Nietzsche que recolham-se às suas significâncias específicas, porra! O cinema, assim como o Oscar, anda cansativo. E olha que cinema é ainda a melhor e menos árida das artes. Não espero que filmes de ação tomem o Oscar de assalto. Sonho ainda com o surgimento de novos Scorseses, Allens, Coppolas, Kazans, Houstons, Curtiz... Hollywood corre o risco de se tornar uma grande fábrica de brinquedinhos. E o Oscar, idem. Não torço pra isso. Mudança é o CACETE. Quero filmes de verdade... E falando em filmes de verdade, somente UMA categoria na festa do dia 28 de fevereiro, está me empolgando: longa-metragem de animação. Empolga-me tanto que "torço" pra 3: O Menino e O Mundo, porque sou brasileiro e tem uma hora que desisto, mas ainda não; Anomalisa, sobre o qual eu até escreveria, mas meu amigo Ricky Nobre, já o fez. E Divertida Mente, ouso dizer o primeiro "filme-cabeça" da minha queridinha Pixar. Aliás, LITERALMENTE cabeça. Por isso o verbo "torcer" acima foi aspeado. Eu não torço pra 3. Torço mesmo é por este. 


Um bom filme tem a função de te despertar de diversas maneiras. Seja chorando, rindo, refletindo, causando estranheza, frustração, raiva... Na verdade, o filme está ali, todos estes despertares são funções humanas. Se não há espectador, o filme não existe. Como o estrondo na queda da velha árvore na floresta vazia.

Mesmo que as emoções/reações despertadas sejam negativas, muitas vezes não prejudicam, pelo contrário: elucidam, esclarecem, ensinam...
Pensando assim, é bom chorar, perder, se frustrar. Agora dói, mas te lapidará mais adiante, mesmo que siga doendo. 


E é sobre isso que trata o 15º filme da Pixar. A ação se passa em dois lugares distintos: a cidade de São Francisco e no interior da mente de Riley, uma menina de 11 anos. Riley é comandada por cinco emoções básicas: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. A Alegria lidera, porém Tristeza serve como uma espécie de Spock da líder, por vezes até disputando comandos. Raiva, Medo e Nojinho são menos vitais para a... Não, não são, considerando a segunda parte do filme.

A Alegria, é claro, tem uma ligação maior com a menina, isso a faz um tanto confiante demais, pois a prevalência emocional desde a mais tenra idade de Riley (e de qualquer criança, salvo trágicas exceções) é a alegria, o riso, o amor e a liberdade. As outras emoções também trabalham. Pontualmente, aqui e ali, mas trabalham. Porém Riley está crescendo...


Sua psique é formada por edificações diversas, há um trem para os sonhos e uma ilha da Imaginação. Sua memória é feita de bolas coloridas e outras nem tão coloridas assim... A mente de Riley guarda corredores insólitos e estranhos funcionários, como os encarregados do que perde a importância e um velho amigo imaginário...

Em dado momento, Alegria e Tristeza terão de provar sua união nos mais recônditos lugares e grutas do subconsciente da criança/adolescente. E serão assim, juntas que provarão valia para o amadurecimento...
O ritual de passagem lembra a obra prima de Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro (2001), todavia numa maneira menos bizarra e mais Disney de ser, contudo não menos dolorosa...


A direção do nérdico Pete "Monstros S.A". & "Up" Docter dá o tom necessário de choro e riso. E as dublagens, tanto a original, quanto a brasileira, são excelentes. Até Dani Calabresa e Otaviano Costa estão muito bem. 

De resto, o Oscar me cansa, mas não o suficiente para a Tristeza tomar algum comando aqui...

INDICAÇÕES AO OSCAR
Melhor longa metragem de animação
Roteiro original: Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley e Ronnie del Carmen


Nenhum comentário: