O CREPÚSCULO DO CRÍTICO &
DIVERTIDA MENTE
Por Antero Leivas
Ando cansado do Oscar. De verdade. Bem cansado. Não discordo
dos filmes em disputa e estarei lá vendo como o faço desde o primeiro ano de
transmissão no Brasil. 1977, um período em que a Globo respeitava o
telespectador e não criava maus programas, más novelas e etc...
Acho que Spotlight leva
a estatueta principal ou Mad Max,
como azarão, o resto é DiCaprio, Brie Larson, George Miller e ator coadjuvante
o Stallone, lógico. O resto eu não sei (Iñarritu, chega) e não me obrigo mais a
saber. Houve uma época em que eu rebuscava as palavras, como certo conhecido,
que escreve ao lado de compêndios de filosofia, psicologia e dicionários de
cinema. Nunca fiz isso, mas demorava uma hora querendo lapidar o vocábulo por
achar que isso enriquecia o texto. Se enriquecer ou não, não vem ao caso.
Depois de um tempo, o cinema entra no sangue, faz parte de você, a naturalidade
aponta a direção e Freud e Nietzsche que recolham-se às suas significâncias
específicas, porra! O cinema, assim como o Oscar, anda cansativo. E olha que
cinema é ainda a melhor e menos árida das artes. Não espero que filmes de ação
tomem o Oscar de assalto. Sonho ainda com o surgimento de novos Scorseses,
Allens, Coppolas, Kazans, Houstons, Curtiz... Hollywood corre o risco de se
tornar uma grande fábrica de brinquedinhos. E o Oscar, idem. Não torço pra
isso. Mudança é o CACETE. Quero filmes de verdade... E falando em filmes de
verdade, somente UMA categoria na festa do dia 28 de fevereiro, está me
empolgando: longa-metragem de animação. Empolga-me tanto que "torço"
pra 3: O Menino e O Mundo, porque
sou brasileiro e tem uma hora que desisto, mas ainda não; Anomalisa, sobre o qual eu até
escreveria, mas meu amigo Ricky Nobre, já o fez. E Divertida Mente, ouso dizer o primeiro "filme-cabeça" da
minha queridinha Pixar. Aliás,
LITERALMENTE cabeça. Por isso o verbo "torcer" acima foi aspeado. Eu
não torço pra 3. Torço mesmo é por este.
Um bom filme tem a função de te despertar de diversas
maneiras. Seja chorando, rindo, refletindo, causando estranheza, frustração,
raiva... Na verdade, o filme está ali, todos estes despertares são funções
humanas. Se não há espectador, o filme não existe. Como o estrondo na queda da
velha árvore na floresta vazia.
Mesmo que as emoções/reações despertadas sejam negativas,
muitas vezes não prejudicam, pelo contrário: elucidam, esclarecem, ensinam...
Pensando assim, é bom chorar, perder, se frustrar. Agora
dói, mas te lapidará mais adiante, mesmo que siga doendo.
E é sobre isso que trata o 15º filme da Pixar. A ação se
passa em dois lugares distintos: a cidade de São Francisco e no interior da
mente de Riley, uma menina de 11 anos. Riley é comandada por cinco emoções
básicas: Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojinho. A Alegria lidera, porém
Tristeza serve como uma espécie de Spock da líder, por vezes até disputando
comandos. Raiva, Medo e Nojinho são menos vitais para a... Não, não são,
considerando a segunda parte do filme.
A Alegria, é claro, tem uma ligação maior com a menina, isso
a faz um tanto confiante demais, pois a prevalência emocional desde a mais
tenra idade de Riley (e de qualquer criança, salvo trágicas exceções) é a
alegria, o riso, o amor e a liberdade. As outras emoções também trabalham.
Pontualmente, aqui e ali, mas trabalham. Porém Riley está crescendo...
Sua psique é formada por edificações diversas, há um trem
para os sonhos e uma ilha da Imaginação. Sua memória é feita de bolas coloridas
e outras nem tão coloridas assim... A mente de Riley guarda corredores
insólitos e estranhos funcionários, como os encarregados do que perde a
importância e um velho amigo imaginário...
Em dado momento, Alegria e Tristeza terão de provar sua
união nos mais recônditos lugares e grutas do subconsciente da
criança/adolescente. E serão assim, juntas que provarão valia para o
amadurecimento...
O ritual de passagem lembra a obra prima de Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro (2001), todavia
numa maneira menos bizarra e mais Disney
de ser, contudo não menos dolorosa...
A direção do nérdico Pete "Monstros S.A". & "Up" Docter dá o tom necessário de choro e riso. E as
dublagens, tanto a original, quanto a brasileira, são excelentes. Até Dani
Calabresa e Otaviano Costa estão muito bem.
De resto, o Oscar me cansa, mas não o suficiente para a
Tristeza tomar algum comando aqui...
INDICAÇÕES AO OSCAR
Melhor longa metragem de animação
Roteiro original: Pete Docter, Meg LeFauve, Josh Cooley e Ronnie del Carmen
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