domingo, 21 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar: A GRANDE APOSTA (cinco indicações)


Por Ricky Nobre



O mercado financeiro é uma ilusão. Dinheiro não existe.

Sim, é um exagero e uma simplificação, mas essa foi a realidade palpável na crise de Wall Street em 2008 que não apenas levou a economia americana ao colapso mas carregou o mundo inteiro junto. Como diz um personagem do filme A Grande Aposta, ligando para a mãe em um momento de pânico: “É o fim do capitalismo”. 

 O peixe que ninguém pediu no restaurante de Anthony Bordain não vai pro lixo. Vira ensopado. Isso é CDO.

Em 2015, a seriedade do mundo atual parece ter preocupado cineastas antes dedicados à comédia. Assim como Jay Roach, diretor da franquia Austin Powers, realizou Trumbo relembrando a caça aos comunistas nos anos 50, sob a luz (ou escuridão) da crescente popularidade de Donald Trump como candidato à presidência, Adam McKay, com histórico resumido ao programa Saturday Night Live e uma longa lista de comédias do Will Farrel, faz uma autópsia bizarra no cadáver da economia americana vítima da ganância, irresponsabilidade e brutalidade dos bancos. 



A Grande Aposta pode, a princípio, parecer identificar como culpados pela tragédia o punhado de investidores espertos o suficiente para perceberem que o mercado de fundos de hipoteca, tradicionalmente o investimento mais seguro da América, estava prestes a entrar em colapso. Numa manobra arriscada, apostaram milhões de dólares que os fundos iriam quebrar, pois a inadimplência das famílias que pagavam suas casas só crescia. Os bancos escondiam que os fundos apodreciam, criando novos fundos categorizados como AAA (os mais seguros) quando de fato eram compostos por investimentos BB ou B (os mais arriscados e inseguros). Tudo isso com anuência dos órgãos fiscalizadores do governo e das agências de classificação. O que acabamos percebendo é que, ainda que esses investidores que apostaram contra a economia americana (e mundial) tenham faturado alguns poucos bilhões de dólares, o sistema em si era tão fraudulento, tão criminoso, que as consequências seriam as mesmas.


Oito milhões de americanos perderam o emprego. Seis milhões perderam suas casas. CINCO TRILHÕES de dólares simplesmente desapareceram da economia. 

 Em Las Vegas, Selena Gomez está ganhando no Black Jack. Ela acha que continuará ganhando e aposta 10 milhões. Uma senhora de óculos aposta que a Selena continuará ganhando. Um outro cara aposta que a senhora de óculos vai ganhar a aposta de que a Selena continuará ganhando. Essa insanidade chama-se "CDO sintético".

 Não é tão complicado quanto parece. É muito mais. Por isso, a forma como Adam McKay conduz o filme é sensacional. Com montagem excepcional, numa linguagem ao mesmo tempo cômica e dramática, cínica e sensível, tradicional e ousada, A Grande Aposta trata do monstruoso macrocosmo da podridão do sistema financeiro e das angústias pessoais de seus personagens (Christian Bale e Steve Carell dão show!). Sempre que o nível de complexidade dos absurdos do sistema (que confunde e surpreende até os personagens) torna-se demais para o público, a quarta parede é quebrada, onde não só os personagens mas também celebridades como a atriz Margot Robbie, o chef de cozinha Anthony Bordain, o doutor em economia Richard Thaler e a popstar Selena Gomez explicam tudinho de um jeito que as nossas cabecinhas lesadas consigam entender. E ainda assim parece difícil. Parece difícil porque é absurdo, impensável e desumano. 

"Tudo com 'subprime' no nome é merda". Com Margot Robbie explicando mercado financeiro, até eu presto atenção. 

No fim (afinal, esse spoiler todo mundo sabe), o governo salvou os bancos e os discursos culpavam os pobres e os imigrantes, enquanto a economia mundial caía como pedras de dominó. Um último aviso: Michael Burry, o homem que previu a bolha imobiliária antes de qualquer um e pôs todo o seu dinheiro nisso, hoje faz apenas pequenos investimentos. Todos concentrados em um produto: ÁGUA. 

INDICAÇÕES AO OSCAR.

Melhor filme

Diretor: Adam McKay

Ator: Christian Bale

Roteiro adaptado: Charles Randolph e Adam McKay baseado no livro The Big Short de Michael Lewis

Montagem: Hank Corwin

Um comentário:

Anônimo disse...

so vim ve os coments