sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Os filmes do Oscar – EX MACHINA, INSTINTO ARTIFICIAL (duas indicações)


Por Ricky Nobre



A ideia da mera possibilidade da criação de inteligência artificial gera enorme fascínio e temor. A ficção científica aproveitou-se muito bem desse dilema moral e ético, onde o ser humano se coloca no papel de criador de uma nova espécie, a geração de intelecto a partir de intelecto. Desde Metropolis (1926), passando por 2001, Um Odisseia no Espaço (1968), chegando a A.I. (2001) e Ela (2014), a criação de robôs inteligentes e sencientes vem sendo retratada como um dilema ético tanto do ponto de vista do perigo que isso traz para a humanidade quanto para os próprios seres criados, tratados como objetos embora tenham a capacidade de pensar, sentir e sofrer. 


Nathan (Oscar Isaac , o Poe Dameron de Star Wars VII) é uma celebridade/gênio estilo Steve Jobs, dono da Blue Book, o maior search engine da internet. Caleb (Domhnall Gleeson , o General Hux de Star Wars VII, olha só que coincidência) é um programador que ganha um concurso para conhecê-lo em sua propriedade escondida de todos, tendo a honra de passar uma semana da companhia do patrão gênio e dividir ideias, drinks e, quem sabe, poder impressionar positivamente o dono da empresa. Logo no primeiro dia, Caleb descobre que, se aceitar assinar um contrato de confidencialidade, ele poderá participar de um projeto absolutamente revolucionário. Assim que aceita, descobre que foi selecionado para avaliar  a inteligência artificial que Nathan criou na forma da robô Ava (Alicia Vikander). Caleb conduzirá uma série de entrevistas e conversas com Ava e decidirá se de fato há inteligência real. Desnecessário dizer que o fascínio de Caleb é absoluto.




Basicamente, só há quatro personagens em cena, sendo Kyoko (Sonoya Mizuno), a calada e submissa secretária/capacho de Nathan, a quarta. Com tanta atenção concentrada em tão poucos, o roteiro de Alex Garland (roteirista estreando como diretor) se sai muito bem ao criar seus personagens, ainda que baseados em tipos, de certa forma clichês, como o gênio egocêntrico e cretino, o empregado tímido, porém sagaz e a robô aparentemente fria com algo de humano por trás. Diretor e elenco trabalham com muita inteligência esses personagens e criam uma atmosfera de constante dúvida, desconfiança, medo e paranoia. 
 

Nathan parece não ter quaisquer questões éticas no que se refere ao ser que criou e assumir quaisquer responsabilidades quanto às emoções que sua criação possa ter. De fato, a certo ponto, Nathan dispara: “No futuro, os A.I olharão para nós como hoje olhamos para fósseis”. Nathan parece ter consciência de que sua criação pode significar o início do fim da humanidade, mas ele realmente não liga. O importante é que ele é capaz de criá-la e nada o impedirá. Em contrapartida, Caleb tenta desvendar o mistério de Ava, e a cada entrevista fica mais claro que tanto ela quanto ele correm perigo ali. Ava parece temer genuinamente seu destino conforme os dias vão passando, pois se falhar na avaliação de Caleb ela pode deixar de existir.


 Como diversas histórias sobre seres e inteligências artificiais, a moral e a ética dos criadores e a consciência e a essência das criaturas entram em conflito com o outro e em si mesmos. Os rumos da trama podem surpreender alguns, mesmo que diversas possibilidades de “virada” de trama passem pela cabeça do espectador, tal a atmosfera de paranoia que se espalha no filme. Uma produção incrivelmente simples onde praticamente todo o dinheiro foi reservado para os sofisticados efeitos especiais, Ex Machina é uma experiência estimulante, assustadora e claustrofóbica. É ficção científica com a qualidade que não se vê há muito tempo no cinema.

INDICAÇÕES AO OSCAR

Roteiro: Alex Garland

Efeitos visuais

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