Por Ricky Nobre
A ideia da mera possibilidade da criação de inteligência
artificial gera enorme fascínio e temor. A ficção científica aproveitou-se
muito bem desse dilema moral e ético, onde o ser humano se coloca no papel de
criador de uma nova espécie, a geração de intelecto a partir de intelecto. Desde
Metropolis (1926), passando por 2001, Um Odisseia no Espaço (1968),
chegando a A.I. (2001) e Ela (2014), a criação de robôs inteligentes
e sencientes vem sendo retratada como um dilema ético tanto do ponto de vista
do perigo que isso traz para a humanidade quanto para os próprios seres
criados, tratados como objetos embora tenham a capacidade de pensar, sentir e
sofrer.
Basicamente, só há quatro personagens em cena, sendo Kyoko (Sonoya
Mizuno), a calada e submissa secretária/capacho de Nathan, a quarta. Com tanta
atenção concentrada em tão poucos, o roteiro de Alex Garland (roteirista
estreando como diretor) se sai muito bem ao criar seus personagens, ainda que
baseados em tipos, de certa forma clichês, como o gênio egocêntrico e cretino,
o empregado tímido, porém sagaz e a robô aparentemente fria com algo de humano
por trás. Diretor e elenco trabalham com muita inteligência esses personagens e
criam uma atmosfera de constante dúvida, desconfiança, medo e paranoia.
Nathan parece não ter quaisquer questões éticas no que se
refere ao ser que criou e assumir quaisquer responsabilidades quanto às emoções
que sua criação possa ter. De fato, a certo ponto, Nathan dispara: “No
futuro, os A.I olharão para nós como hoje olhamos para fósseis”. Nathan parece
ter consciência de que sua criação pode significar o início do fim da
humanidade, mas ele realmente não liga. O importante é que ele é capaz de
criá-la e nada o impedirá. Em contrapartida, Caleb tenta desvendar o mistério
de Ava, e a cada entrevista fica mais claro que tanto ela quanto ele correm
perigo ali. Ava parece temer genuinamente seu destino conforme os dias vão
passando, pois se falhar na avaliação de Caleb ela pode deixar de existir.
Como diversas histórias sobre seres e inteligências
artificiais, a moral e a ética dos criadores e a consciência e a essência das
criaturas entram em conflito com o outro e em si mesmos. Os rumos da trama
podem surpreender alguns, mesmo que diversas possibilidades de “virada” de
trama passem pela cabeça do espectador, tal a atmosfera de paranoia que se
espalha no filme. Uma produção incrivelmente simples onde praticamente todo o
dinheiro foi reservado para os sofisticados efeitos especiais, Ex Machina é uma experiência
estimulante, assustadora e claustrofóbica. É ficção científica com a qualidade que
não se vê há muito tempo no cinema.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Roteiro: Alex Garland
Efeitos visuais
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