Por Ricky Nobre
O inglês Edgar Wright é o queridinho cult da garotada. Com
senso de humor afiado, uma linguagem jovem pós-MTV e muito estilo, Wright conquistou
o público com sua “trilogia do corneto” e a adaptação de Scott Pilgrim Contra o
Mundo. Seu filme mais recente é também seu primeiro mais essencialmente “americano”,
além de também ser uma das suas mais antigas ideias. Com o roteiro sendo
trabalhado desde 1995, Em Ritmo de Fuga finalmente estreou em 2017 tornando-se,
disparado, seu filme de maior sucesso.
O “baby driver” do título original (Ansel Elgort) se diverte
roubando carros apenas para diversão, até que rouba o carro do mafioso Doc (Kevin
Spacey) e este o obriga a se tornar motorista de diversos assaltos. Vítima de
um acidente na infância, Baby precisa ouvir música o tempo inteiro para se
distrair do zumbido nos ouvidos que adquiriu desde o acidente. Ao conhecer a
garçonete Debora (Lily James), ele pretende encerrar sua carreira de motorista
criminoso e fugir com a moça. Mas é óbvio que não será simples assim.
Um grande trunfo de Em Ritmo de Fuga (ah, esses títulos
brasileiros...) é que Wright usa todo o seu repertório super estiloso a serviço
dos personagens. Sendo a trama banal e os personagens de papelão, são o seu
estilo de humor, narrativa e construção estética que formam os personagens,
principalmente o protagonista. Ainda que num ambiente contemporâneo, Baby não
usa smartphones, ouve música em iPods (muitos!) e grava os mixes que compõe em
fitas cassete. Preso numa situação da qual não pode escapar, ele escolhe se
divertir em vez de se lamentar, principalmente por poder fazer o que mais ama:
dirigir perigosa e espetacularmente.
A música que Baby ouve constantemente embala praticamente
todo o filme, e até mesmo os duelos com armas de fogo são sonorizados
exatamente no ritmo da música, tornando-se música por si só. As perseguições
são sensacionais e praticamente tudo foi realizado com efeitos especiais “práticos”,
com uso de computação gráfica apenas para pequenos retoques na imagem. Existe toda
uma estética retrô em Baby Driver (o filme e o personagem) que dá a identidade
primária ao filme, sem que fique exatamente uma impressão de “filme hipster”
ou, na melhor das hipóteses, hipster-cool.
Não se deve esperar profundidade alguma de Em Ritmo de Fuga.
É um filme de ação divertido e repleto de estilo que não deve ter pretendido ir
muito além disso, apesar de ser um projeto querido de longa data do diretor. Se
algo nesse panorama prejudica o filme, podemos falar do personagem excessivamente
clichê de James Foxx (o malvadão-mala), e a construção ainda mais limitada das
personagens femininas e sua pouca influência na trama, como, aliás, é de hábito
nos filmes de Wright. A continuação já está sendo preparada e podemos esperar
mais aventuras do marginal de bom coração que não pisa no acelerador enquanto
não encontra a música perfeita.
COTAÇÃO:
EM RITMO DE FUGA (Baby Driver, 2017)
Com: Ansel Elgort, Jon Bernthal, Jon Hamm, Eiza González, Lily
James, Kevin Spacey e CJ Jones.
Direção e roteiro: Edgar Wright
Fotografia: Bill Pope
Montagem: Jonathan Amos e Paul Machliss
Música original: Steven Price
INDICAÇÕES AO OSCAR:
Montagem: Jonathan Amos e Paul Machliss
Edição de som: Julian Slater
Mixagem de som: Julian Slater, Tim Cavagin e Mary H. Ellis
Nenhum comentário:
Postar um comentário