segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Os filmes do Oscar: EM RITMO DE FUGA – três indicações


Por Ricky Nobre


O inglês Edgar Wright é o queridinho cult da garotada. Com senso de humor afiado, uma linguagem jovem pós-MTV e muito estilo, Wright conquistou o público com sua “trilogia do corneto” e a adaptação de Scott Pilgrim Contra o Mundo. Seu filme mais recente é também seu primeiro mais essencialmente “americano”, além de também ser uma das suas mais antigas ideias. Com o roteiro sendo trabalhado desde 1995, Em Ritmo de Fuga finalmente estreou em 2017 tornando-se, disparado, seu filme de maior sucesso. 

 

O “baby driver” do título original (Ansel Elgort) se diverte roubando carros apenas para diversão, até que rouba o carro do mafioso Doc (Kevin Spacey) e este o obriga a se tornar motorista de diversos assaltos. Vítima de um acidente na infância, Baby precisa ouvir música o tempo inteiro para se distrair do zumbido nos ouvidos que adquiriu desde o acidente. Ao conhecer a garçonete Debora (Lily James), ele pretende encerrar sua carreira de motorista criminoso e fugir com a moça. Mas é óbvio que não será simples assim.

 

Um grande trunfo de Em Ritmo de Fuga (ah, esses títulos brasileiros...) é que Wright usa todo o seu repertório super estiloso a serviço dos personagens. Sendo a trama banal e os personagens de papelão, são o seu estilo de humor, narrativa e construção estética que formam os personagens, principalmente o protagonista. Ainda que num ambiente contemporâneo, Baby não usa smartphones, ouve música em iPods (muitos!) e grava os mixes que compõe em fitas cassete. Preso numa situação da qual não pode escapar, ele escolhe se divertir em vez de se lamentar, principalmente por poder fazer o que mais ama: dirigir perigosa e espetacularmente. 

 

A música que Baby ouve constantemente embala praticamente todo o filme, e até mesmo os duelos com armas de fogo são sonorizados exatamente no ritmo da música, tornando-se música por si só. As perseguições são sensacionais e praticamente tudo foi realizado com efeitos especiais “práticos”, com uso de computação gráfica apenas para pequenos retoques na imagem. Existe toda uma estética retrô em Baby Driver (o filme e o personagem) que dá a identidade primária ao filme, sem que fique exatamente uma impressão de “filme hipster” ou, na melhor das hipóteses, hipster-cool. 

 

Não se deve esperar profundidade alguma de Em Ritmo de Fuga. É um filme de ação divertido e repleto de estilo que não deve ter pretendido ir muito além disso, apesar de ser um projeto querido de longa data do diretor. Se algo nesse panorama prejudica o filme, podemos falar do personagem excessivamente clichê de James Foxx (o malvadão-mala), e a construção ainda mais limitada das personagens femininas e sua pouca influência na trama, como, aliás, é de hábito nos filmes de Wright. A continuação já está sendo preparada e podemos esperar mais aventuras do marginal de bom coração que não pisa no acelerador enquanto não encontra a música perfeita.

 

 COTAÇÃO:



 EM RITMO DE FUGA (Baby Driver, 2017)
Com: Ansel Elgort, Jon Bernthal, Jon Hamm, Eiza González, Lily James, Kevin Spacey e CJ Jones.
Direção e roteiro: Edgar Wright
Fotografia: Bill Pope
Montagem: Jonathan Amos e Paul Machliss
Música original: Steven Price

INDICAÇÕES AO OSCAR:
Montagem: Jonathan Amos e Paul Machliss
Edição de som: Julian Slater
Mixagem de som: Julian Slater, Tim Cavagin e Mary H. Ellis

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