quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Os filmes do Oscar: LADY BIRD: É HORA DE VOAR – cinco indicações


Por Ricky Nobre


A jovem atriz americana de família irlandesa Saoirse Ronan (boa sorte em pronunciar esse nome) parece ser pé quente. Ela tem o dom de elevar filmes interessantes, porém medianos, a status bem mais elevados do que merecem. Em 2015, foi com Brooklyn, um filme razoável que foi vendido por um altíssimo preço no festival Sundance, recebeu múltiplas indicações ao Oscar e Globo de Ouro e foi sucesso absoluto de bilheteria na Irlanda. Lady Bird segue caminho semelhante, porém com certa vantagem: se não é tão polido, bonitinho e bem acabado quanto Brooklyn, o filme da diretora e atriz Greta Gerwig ganha na qualidade dos personagens e das interpretações.

 

Em 2002, a jovem Christine está terminando o ensino médio e deseja passar para uma grande universidade, de preferência, longe de casa. Consistentemente rebelde, ela se auto batizou “Lady Bird” e não aceita ser chamada por outro nome. A questão da universidade é apenas um dos muitos motivos de atrito entre ela e a mãe. Entre seu desejo em sair da mesmice da região pobre de Sacramento, na Califórnia, conhecer o mundo e expandir seus horizontes, ela primeiro precisa aprender a lidar com o que a rodeia, seja a família, os amigos ou sua origem. 

 

O roteiro de Lady Bird é bastante simples e não é particularmente inspirado. O que o filme tem de melhor e é seu grande diferencial é a concepção da protagonista e a forma como é interpretada por Ronan. É um clichê comum as personagens de jovens rebeldes, cercados de intolerância, injustiça, caretice e tudo mais que alimenta a rebeldia juvenil. Mas os tons de Lady Bird são um pouco mais cinzas. Durante boa parte do filme, não é fácil simpatizar com a personagem, e a forma por vezes injusta como ela trata a família e amigos pode gerar antipatia em quem esperava uma protagonista certinha. 

 

Na verdade, Lady Bird é uma adolescente normal e imatura quanto qualquer outra, capaz de trocar a melhor amiga por outra mais popular quando lhe parece conveniente, achar que todos são burros/incultos/ignorantes menos ela, e ser extremamente grosseira e injusta com os pais e o irmão em momentos de frustração. Ainda assim, não se tem a impressão de que Lady Bird é uma má pessoa, mas que a maturidade chegará quando suas escolhas tiverem as devidas consequências. 


A questão chave do roteiro e da personagem é o relacionamento da menina com a mãe. Com sensibilidade e realismo, o filme mostra uma relação amorosa, porém difícil, onde a mãe tem horror à ideia da filha cursar faculdade longe de casa, e acaba exercendo um pulso controlador, onde coisas muito duras acabam sendo desnecessariamente ditas. Muito da rebeldia aparentemente sem causa da menina tem clara origem em seu relacionamento com a mãe, que pode mudar de piores inimigas a melhores amigas em questão, literalmente, de segundos. Os dramas dessa relação mãe/filha que é, ao mesmo tempo, de amor e rancor, são os principais momentos onde brilham as interpretações de Saoirse Ronan e Laurie Metcalf.

 

Com a sensibilidade de construir personagens que não descambam para o óbvio, Gerwig peca ao não desenvolver um roteiro mais elaborado. Sendo seu primeiro filme solo como diretora, ela ainda tem muito tempo para desenvolver seu trabalho. Lady Bird não é uma má estreia, mas não justifica todo o hype em torno dele.  

 

 COTAÇÃO:


LADY BIRD: HORA DE VOAR (Lady Bird, 207)

Com: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts,  Lucas Hedges, Timothée Chalamet e Beanie Feldstein.

Direção e roteiro: Greta Gerwig

Fotografia: Sam Levy

Montagem: Nick Houy

Música: Jon Brion



INDICAÇÕES AOS OSCAR:

Melhor filme

Diretora: Greta Gerwig

Atriz: Saoirse Ronan

Atriz coadjuvante: Laurie Metcalf

Roteiro original: Greta Gerwig

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