segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Os Filmes do Oscar: A ESPOSA – 1 indicação

Por Ricky Nobre


“Por trás de todo grande homem existe sempre uma grande mulher”. Uma frase clichê que muitas mulheres amam e outras tantas odeiam. Em A Esposa, Glenn Close é a cônjuge de um grande escritor que acaba de ganhar o Nobel de literatura e que vive entre o orgulho que sente pelo marido e a mágoa por ter vivido à sua sombra por 34 anos. A viagem até Estocolmo para receber o prêmio torna-se um momento crucial para que ela reavalie seu casamento e sua vida. 

 

A primeira produção em língua inglesa do sueco Björn Runge trabalha com sutilezas e detalhes ínfimos. É fácil deixar-se levar e julgar as mudanças de humor de Joan que parecem vir do nada, principalmente quando seu marido Joe parece não ter dito ou feito nada de errado. Conforme se desenrola, A Esposa vai se montando quase como um filme de mistério, lentamente desvendando peça por peça não quem foi o “criminoso” mas qual afinal foi o “crime” cometido.

 

Para um drama tão comedido quanto este, chama a atenção o quanto Runge consegue construir e manter uma finíssima camada de tensão que percorre todo o filme. Ele emerge não apenas de Joan mas também do filho David (Max Irons), que começa a dar seus primeiros passos como escritor e que aguarda com avidez quase desesperada por alguma aprovação paterna que nunca chega. Joe, que é muito habilmente retratado por Jonathan Pryce como um senhor muito simpático, bem humorado e boa praça, guarda com imensa sutileza seus traços profundamente egocêntricos, que a idade só veio a acentuar. 

 

O brilho maior do filme vem, sem dúvida alguma, de Joan. Glenn Close consegue com simples olhares e frases evasivas transmitir o desespero de alguém que parece carregar o peso do mundo nas costas. O recurso de flashback, que mostra como os dois se conheceram 34 anos antes, é um dos principais elementos que servirá para o espectador atento ligar os pontos e dar sentido a cada olhar amargurado de Joan. Mas a direção e o roteiro têm sensibilidade para não reduzir essas tensões a simplismos, como mostram vários momentos em que desentendimentos sérios são postos de lado quando o acaso traz profundas alegrias ou medos.

 

Ao receber o Globo de Ouro de melhor atriz por A Esposa, Glenn Close lembrou-se da mãe que chegou aos 80 anos com a triste sensação de não ter realizado nada. Com este papel, Close teve a oportunidade não apenas de abordar esse tema, mas um desdobramento muito mais complexo dele. Apesar da história se passar em 1992 com flashbacks que começam em 1958, A Esposa tem muito a dizer hoje e o faz com muita emoção, sendo o amor a que mais determina as escolhas das personagens.


COTAÇÃO: 


 
A ESPOSA (The Wife, 2017)
Com: Glenn Close, Jonathan Pryce, Max Irons, Christian Slater, Harry Lloyd, Annie Starke e Elizabeth McGovern
Direção: Björn Runge
Roteiro: Jane Anderson, baseado no livro de Meg Wolitzer
Fotografia: Ulf Brantås
Montagem: Lena Runge
Música: Jocelyn Pook

INDICAÇÃO AO OSCAR:
Atriz: Glenn Close

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