“Por trás de todo grande homem existe sempre uma grande
mulher”. Uma frase clichê que muitas mulheres amam e outras tantas odeiam. Em A
Esposa, Glenn Close é a cônjuge de um grande escritor que acaba de ganhar o
Nobel de literatura e que vive entre o orgulho que sente pelo marido e a mágoa
por ter vivido à sua sombra por 34 anos. A viagem até Estocolmo para receber o
prêmio torna-se um momento crucial para que ela reavalie seu casamento e sua
vida.
A primeira produção em língua inglesa do sueco Björn Runge trabalha
com sutilezas e detalhes ínfimos. É fácil deixar-se levar e julgar as mudanças
de humor de Joan que parecem vir do nada, principalmente quando seu marido Joe
parece não ter dito ou feito nada de errado. Conforme se desenrola, A Esposa
vai se montando quase como um filme de mistério, lentamente desvendando peça
por peça não quem foi o “criminoso” mas qual afinal foi o “crime” cometido.
Para um drama tão comedido quanto este, chama a atenção o
quanto Runge consegue construir e manter uma finíssima camada de tensão que
percorre todo o filme. Ele emerge não apenas de Joan mas também do filho David
(Max Irons), que começa a dar seus primeiros passos como escritor e que aguarda
com avidez quase desesperada por alguma aprovação paterna que nunca chega. Joe,
que é muito habilmente retratado por Jonathan Pryce como um senhor muito
simpático, bem humorado e boa praça, guarda com imensa sutileza seus traços
profundamente egocêntricos, que a idade só veio a acentuar.
O brilho maior do filme vem, sem dúvida alguma, de Joan. Glenn
Close consegue com simples olhares e frases evasivas transmitir o desespero de
alguém que parece carregar o peso do mundo nas costas. O recurso de flashback,
que mostra como os dois se conheceram 34 anos antes, é um dos principais
elementos que servirá para o espectador atento ligar os pontos e dar sentido a
cada olhar amargurado de Joan. Mas a direção e o roteiro têm sensibilidade para
não reduzir essas tensões a simplismos, como mostram vários momentos em que
desentendimentos sérios são postos de lado quando o acaso traz profundas
alegrias ou medos.
Ao receber o Globo de Ouro de melhor atriz por A Esposa,
Glenn Close lembrou-se da mãe que chegou aos 80 anos com a triste sensação de
não ter realizado nada. Com este papel, Close teve a oportunidade não apenas de
abordar esse tema, mas um desdobramento muito mais complexo dele. Apesar da
história se passar em 1992 com flashbacks que começam em 1958, A Esposa tem
muito a dizer hoje e o faz com muita emoção, sendo o amor a que mais determina
as escolhas das personagens.
COTAÇÃO:
A ESPOSA
(The Wife, 2017)
Com: Glenn
Close, Jonathan Pryce, Max Irons, Christian Slater, Harry Lloyd, Annie Starke e
Elizabeth McGovern
Direção: Björn
Runge
Roteiro: Jane Anderson, baseado no livro de Meg Wolitzer
Fotografia: Ulf Brantås
Montagem: Lena Runge
Música: Jocelyn Pook
INDICAÇÃO AO OSCAR:
Atriz: Glenn Close
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