sábado, 16 de fevereiro de 2019

Os Filmes do Oscar: PODERIA ME PERDOAR? – 3 indicações

Por Ricky Nobre


No início da década de 90, ocorreu um escândalo literário bastante peculiar. Lee Israel, uma escritora de biografias em delicada situação financeira, foi descoberta como autora de cerca de 400 cartas falsificadas de celebridades, as quais ela vendia para livrarias que revendiam artigos colecionáveis. Sua criatividade em escrever cartas que refletiam o estilo e a personalidade de famosos tornou o negócio algo bastante rentável no início, mas acabou também por desmascará-la, uma vez que as pessoas reais, em privado, muitas vezes não se expressam da mesma forma que suas personas públicas. 

 

Como a história do cinema claramente demonstra, não é incomum filmes com anti heróis ou mesmo criminosos que conquistam a simpatia do público, sejam trapaceiros, ladrões de banco ou trambiqueiros em geral. Afinal, quem não torceria por Butch Cassidy e Sundance Kid vestindo os sorrisos de Paul Newman e Robert Redford? Mas quando o criminoso é antipático, antissocial e não tem cara de estrela de cinema, aí é bem mais difícil. E foi com imensa habilidade que a diretora Marielle Heller conduz essa comédia amarga brilhantemente protagonizada por Melissa McCarthy, figura fácil nas comédias americanas nos últimos anos, mas que aqui recebe um desafio bem diferente. 

 

Quase irreconhecível por baixo da caracterização, McCarthy conquista o público que acompanha e até torce para o sucesso da falsária que luta para pagar o aluguel e o tratamento médico de sua gata, o único ser vivo com quem Lee tem um relacionamento saudável. Mas Lee tem sim um amigo, o charmoso vagabundo Jack Hock, lindamente composto por Richard Grant que acaba sendo parceiro de Lee, uma vez que ele mais talentoso para vender e negociar preços do que ela. Apesar do fato de que a parte mais ficcionalizada do roteiro é o relacionamento entre os dois, a essência permaneceu bem fiel. 

 

Ainda que Heller explore o tom cômico das situações, existe um tom melancólico que atravessa todo o filme, seja no alcoolismo de Lee ou na sua forma de afastar rapidamente pessoas que a atraem, seja na própria fotografia em tons fechados e sombrios. Nessas sutilezas, McCarthy brilha, mostrando uma grande atriz que ficou confinadas tempo demais apenas em comédias. 

 

Lee Israel só escreveu o livro sobre sua experiência como falsária após dez anos de muita insistência dos produtores do filme, que já pretendiam levar a história para o cinema, e mais dez foram necessários até que o filme saísse. Se toda essa espera foi necessária para que fosse possível o perfeito casamento entre diretora e atores, então valeu a pena.

 

COTAÇÂO:

PODERIA ME PERDOAR? (Can You Ever Forgive Me?, 2018)

Com: Melissa McCarthy, Richard E. Grant, Dolly Wells, Ben Falcone e Jane Curtin

Direção: Marielle Heller

Roteiro: Nicole Holofcener e Jeff Whitty, baseado no livro de Lee Israel

Fotografia: Brandon Trost

Montagem: Anne McCabe

Música: Nate Heller



INDICAÇÕES AO OSCAR:

Atriz: Melissa McCarthy

Ator coadjuvante: Richard E. Grant

Roteiro adaptado: Nicole Holofcener e Jeff Whitty

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