domingo, 10 de fevereiro de 2019

Os Filmes do Oscar: VICE – 8 indicações

Por Ricky Nobre


Autor de algumas comédias rasgadas, o cineasta Adam McKay surpreendeu há dois anos com uma visão ao mesmo tempo precisa, detalhada, satírica e mordaz da crise do mercado financeiro de 2008 que pôs milhares de americanos para fora de suas casas, com o genial A Grande Aposta. Ele agora volta com Vice, uma mistura de biografia com sátira da trajetória de Dick Cheney, que foi vice presidente do Bush filho e que, com uma astúcia diabólica, utilizou os ataques de 11 de setembro para concentrar uma inédita quantidade de poder nas mãos. 

 

Christian Bale encarna Cheney com perfeição, começando pela transformação física, que é algo ao qual ele já está acostumado. Ganhou mais de 20 quilos, raspou os cabelos, fez exercícios para engrossar o pescoço e carregou pesada maquiagem. Mas é na voz, nos maneirismos, no olhar e nas sutilezas que está o brilhantismo do seu trabalho. Bale segue muito bem acompanhado pela sensacional Amy Adams, do cada vez melhor Steve Carell e do excelente Sam Rockwell que tem a difícil e ingrata tarefa de interpretar o ex presidente Bush sem que parecesse uma sátira do Saturday Night Live, missão particularmente complicada, considerando-se tanto o viés satírico da direção quanto o personagem em si. 

 

Esta abordagem que mescla drama e sátira, ao mesmo tempo em que torna o filme original e o tira da mesmice, se apresenta também como um grande risco para sua credibilidade. Com muita habilidade, McKay cria uma narrativa onde a própria sátira serve para enfatizar que muito do que é apresentado é especulação, dado a personalidade muito reservada de Cheney, ao mesmo tempo em que usa tanto o humor quanto o drama para dar impacto a fatos históricos. Até mesmo a possível percepção de ser um filme “esquerdista” gera uma sensacional cena pós créditos, mostrando que McKay possui absoluto domínio do que quer dizer e assume total responsabilidade por isso. É particularmente brilhante a montagem entrecortada, já próximo à conclusão, onde vemos Cheney tomar uma decisão onde põe a política acima da família, algo ao qual se mostra radicalmente contra durante quase todo o filme.

 

Fica bastante claro que o filme tem a intenção de mostrar a “Era Bush” e o papel dominante de Cheney nela como um prelúdio dos tempos atuais, principalmente quando fala da ascensão da imprensa conservadora e de seu papel na percepção popular. Vice não é a espetacular overdose de informação e ironia a cada minuto que foi A Grande Aposta. Ainda que tenha intervenções hilárias na narrativa (como as participações especiais de Alfred Mollina e Naomi Watts) e quebra de quarta parede, o filme tem um tom mais comedido pois, ainda que de forma sutil, reflete a personalidade reservada e observadora de Cheney, que era capaz de enxergar incontáveis jogadas à frente e só mostrava suas cartas na hora certa. McKay faz mais um filme essencial para os EUA e o mundo de hoje e que merece ser visto, seja você um fascista de facebook ou um esquerdopata cirandeiro.

COTAÇÃO: 
 

 

VICE (2018)

Com: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Sam Rockwell, Jesse Plemons, Alison Pill, LisaGay Hamilton e Lily Rabe

Roteiro e direção: Adam McKay

Fotografia: Greig Fraser

Montagem: Hank Corwin

Música: Nicholas Britell



Indicações ao Oscar:

Filme

Direção: Adam McKay

Ator: Christian Bale

Ator coadjuvante: Sam Rockwell

Atriz coadjuvante: Amy Adams

Roteiro original: Adam McKay

Montagem: Hank Corwin

Maquiagem e cabelos: Greg Cannom, Kate Biscoe e Patricia DeHaney


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