Por Ricky Nobre
O contato com seres de outros planetas é um dos temas mais
caros à literatura e ao cinema de ficção científica. Em seu terceiro filme
americano, o canadense Denis Villeneuve traz de volta o medo da invasão
alienígena, enfatizando o que há de mais relevante e precioso na ficção
científica: a discussão de temas humanos.
Louise (Amy Adams, duplamente garfada nas indicações este
ano), uma expert em linguística, é recrutada pelas forças armadas dos EUA
quando 12 OVNIs aterrissam no planeta, em diferentes países. Seu trabalho junto
com o cientista Ian (Jeremy Renner) é o de tentar estabelecer contato com os
alienígenas que, a princípio, não parecem oferecer perigo. Além da tensão e das
incertezas da missão, Louise irá lidar com as fantásticas descobertas sobre a
linguagem dos alienígenas, a pressão crescente conforme os ânimos vão se
acirrando entre chineses e russos em relação aos aliens, com as constantes
memórias de sua filha morta por um câncer e a estreita relação dessas memórias
com suas descobertas.
A Chegada é o tipo de filme em que é impossível discutir
adequadamente sem revelar seus principais segredos. O fato é que ele trata de um
ramo da ficção científica que é muito popular, extremamente fascinante mas
também altamente polêmico, dadas as suas ramificações e teorias controversas. A
plausibilidade de sua resolução pode ser tema de horas de discussão, e irá
exigir mente bem aberta. Felizmente, o roteiro, junto com a inteligência e
sensibilidade de Villeneuve, oferece elementos suficientes para que, de forma
muito particular, tudo faça sentido (ou pelo menos gere excelentes discussões).
Mesmo com todo o mistério que envolve a trama, a emoção é um
ponto chave do filme. Não apenas a emoção de Louise diante de tudo que
testemunha e de toda a apreensão e temor que a situação traz, mas também, e
principalmente, as que vai experimentando pouco a pouco, invadindo-a lentamente
e que tem a ver com importantes decisões em sua vida que ela tomou, toma e
tomará posteriormente, em especial, uma que lhe trará enorme felicidade, mas
também profunda tristeza.
Com a emoção tendo tal protagonismo, chega a ser
triste a opção pela abordagem da trilha musical de Jóhann Jóhannsson, onde a
música assume basicamente o papel de efeitos sonoros, na mesma linha seguida em
Sicario, outra colaboração entre Jóhannssone e Villenouve. São longas e frias
texturas sonoras que basicamente ambientam e, de fato, dão um tom entre o tenso
e o misterioso. Mas é tão destituída de emoção que essa função musical ficou a
cargo de uma música pré existente (On the Nature of Daylight de Max Richter).
Decepcionante, apesar de não ser nada nova essa tendência da música no cinema
ter se tornado puro sound design.
A Chegada está na ilustre e honradíssima companhia de
Contatos Imediatos do Terceiro Grau, de Spielberg, O Dia em que A Terra Parou,
de Wise e Contato de Zemeckis e é, desde já, um clássico do gênero. E é num
filme de invasão alienígena que vemos uma história sobre abraçar e aceitar a
vida com tudo de belo e terrível que ela traz.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Direção: Denis VilleneuveFilme
Roteiro adaptado: Eric Heisserer baseado em "Story of Your Life" de Ted Chiang
Fotografia: Bradford Young
Montagem: Joe Walker
Edição de som: Sylvain Bellemare
Mixagem de som: Bernard Gariépy Strobl e Claude La Haye
Design de produção: Patrice Vermette e Paul Hotte
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