quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Os filmes do Oscar: MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR (8 indicações)


Por Ricky Nobre



Estrelas Além do Tempo, Loving e Um Limite Entre Nós são filmes com temática negra que vieram do lado mais endinheirado de Hollywood. Moonlight, porém, é uma produção independente realizada com cerca de 5 milhões de dólares e que rendeu 20 milhões só nos EUA. É também um dos filmes com maior quantidade de indicações ao Oscar este ano, tendo também levado o Globo de Ouro de melhor filme (drama). Talvez seja o único com chances de enfrentar o alegre e adorado La La Land, mas é uma tarefa árdua para um dos filmes com menos “cara de Oscar” indicado nos últimos anos. 

 

Não é fácil realizar uma análise satisfatória de Moonlight sem entrar no polêmico terreno do spoiler, principalmente porque o próprio ato de discutir uma de suas principais qualidades, que é sua estrutura, pode acabar prejudicando muito a própria experiência do filme. Moonlight segue a trajetória de Chiron, morador de um bairro negro de Miami em três atos distintos: infância (Alex R. Hibbert), adolescência (Ashton Sanders) e fase adulta (Trevante Rhodes). Vítima frequente de bullying, o pequeno Chiron (apelidado de “Little”) vive largado no mundo fugindo dos garotos que o perseguem e evitando voltar para casa, onde mora com a mãe viciada em crack (Naomie Harris). Nos longos períodos em que fica fora de casa, Little conhece o traficante Juan (Mahershala Ali) e sua namorada Teresa (Janelle Monáe), que lhe servirão de porto seguro e referência para o futuro. 

 

O que mais surpreende em Moonlight é a simplicidade quase casual com que temas espinhosos são tratados, como homossexualidade na comunidade negra e a relação da juventude negra com tráfico e uso de drogas, violência e encarceramento. Sem qualquer fiapo de discurso panfletário, o filme mostra a relação entre o abandono da juventude e suas consequências nas vidas dessas pessoas. Com uma mãe incapaz de criar devidamente o filho graças ao vício e uma escola que não deu importância ao bullying até atingir trágicas consequências, foi justamente nas improváveis companhias de Juan e Teresa que Chiron encontra algum carinho e abrigo. Todos esses elementos, mais a relação com o amigo Kevin nessas três fases, serão fundamentais para compreender o homem que ele se tornará. 

 

A ausência total de sensacionalismo diante dos temas tratados é certamente originada na familiaridade de seus criadores com o universo apresentado. Tanto o diretor e roteirista Barry Jenkins quanto o autor da peça original Tarell Alvin McCraney moravam na mesma região de Miami mostrada no filme e tiveram mães viciadas em crack. Moonlight é um filme essencialmente negro, masculino e da periferia. É também complexo e simples, cruel e delicado. E, apesar de ser possível extrair dele uma “mensagem universal” que extrapole os limites da comunidade negra, não é um filme pra todo mundo, especialmente por ser completamente despido de moralismos.

 

INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Diretor: Barry Jenkins
Ator coadjuvante: Mahershala Ali
Atriz coadjuvante: Naomie Harris
Roteiro adaptado: Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney baseado na peça Moonlight Black Boys Look Blue de Tarell Alvin McCraney
Música original: Nicholas Britell
Fotografia: James Laxton
Montagem: Nat Sanders e Joi McMillon

Nenhum comentário: