Por Ricky Nobre
Estrelas Além do Tempo, Loving e Um Limite Entre Nós são filmes
com temática negra que vieram do lado mais endinheirado de Hollywood. Moonlight,
porém, é uma produção independente realizada com cerca de 5 milhões de dólares
e que rendeu 20 milhões só nos EUA. É também um dos filmes com maior quantidade
de indicações ao Oscar este ano, tendo também levado o Globo de Ouro de melhor
filme (drama). Talvez seja o único com chances de enfrentar o alegre e adorado
La La Land, mas é uma tarefa árdua para um dos filmes com menos “cara de Oscar”
indicado nos últimos anos.
Não é fácil realizar uma análise satisfatória de Moonlight
sem entrar no polêmico terreno do spoiler, principalmente porque o próprio ato
de discutir uma de suas principais qualidades, que é sua estrutura, pode acabar
prejudicando muito a própria experiência do filme. Moonlight segue a trajetória
de Chiron, morador de um bairro negro de Miami em três atos distintos: infância
(Alex R. Hibbert), adolescência (Ashton Sanders) e fase adulta (Trevante Rhodes).
Vítima frequente de bullying, o pequeno Chiron (apelidado de “Little”) vive
largado no mundo fugindo dos garotos que o perseguem e evitando voltar para
casa, onde mora com a mãe viciada em crack (Naomie Harris). Nos longos períodos
em que fica fora de casa, Little conhece o traficante Juan (Mahershala Ali) e
sua namorada Teresa (Janelle Monáe), que lhe servirão de porto seguro e
referência para o futuro.
O que mais surpreende em Moonlight é a simplicidade quase
casual com que temas espinhosos são tratados, como homossexualidade na
comunidade negra e a relação da juventude negra com tráfico e uso de drogas,
violência e encarceramento. Sem qualquer fiapo de discurso panfletário, o filme
mostra a relação entre o abandono da juventude e suas consequências nas vidas
dessas pessoas. Com uma mãe incapaz de criar devidamente o filho graças ao
vício e uma escola que não deu importância ao bullying até atingir trágicas consequências,
foi justamente nas improváveis companhias de Juan e Teresa que Chiron encontra
algum carinho e abrigo. Todos esses elementos, mais a relação com o amigo Kevin
nessas três fases, serão fundamentais para compreender o homem que ele se
tornará.
A ausência total de sensacionalismo diante dos temas
tratados é certamente originada na familiaridade de seus criadores com o
universo apresentado. Tanto o diretor e roteirista Barry Jenkins quanto o autor
da peça original Tarell Alvin McCraney moravam na mesma região de Miami
mostrada no filme e tiveram mães viciadas em crack. Moonlight é um filme essencialmente
negro, masculino e da periferia. É também complexo e simples, cruel e delicado.
E, apesar de ser possível extrair dele uma “mensagem universal” que extrapole
os limites da comunidade negra, não é um filme pra todo mundo, especialmente por
ser completamente despido de moralismos.
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Diretor: Barry Jenkins
Ator coadjuvante: Mahershala Ali
Atriz coadjuvante: Naomie Harris
Roteiro adaptado:
Barry Jenkins e Tarell Alvin McCraney baseado na peça Moonlight Black Boys Look
Blue de Tarell Alvin McCraney
Música original:
Nicholas Britell
Fotografia: James Laxton
Montagem: Nat
Sanders e Joi McMillon
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