Por Ricky Nobre
Johnny Depp pode continuar batendo em mulher, Roman Polanski
e Woody Allen podem continuar sendo pedófilos. Se Mel Gibson pode continuar sendo
homofóbico e antissemita em Hollywood, o lugar mais gay e judeu do mundo, nada
mais pode destruir a carreira de um homem talentoso que renda dinheiro ao
estúdio. Depois de uma década parado, Gibson volta à cadeira de diretor nessa
cinebiografia de Desmond Doss (Andrew Garfield, com reais chances de Oscar), o
soldado cristão que se recusava a tocar numa arma mas salvou dezenas de homens
na Segunda Guerra Mundial com atos de bravura que lhe renderam a Medalha de
Honra, a primeira a ser recebida por um “objetor consciente”, como são
conhecidos os que se opõem ao serviço militar.
Enquanto cineasta, Mel Gibson nunca foi conhecido pela sutileza. Isso pode ter funcionado maravilhosamente bem em Coração Valente ou
terrivelmente mal e A Paixão de Cristo. Em Até o Último Homem, ele apresenta de
forma bem separadas as fases da juventude de Doss, seu processo de alistamento,
todo o treinamento sofrido e humilhante perpetrado por superiores e colegas por
conta de suas convicções, até chegar de forma impactante e brutal na
carnificina da guerra. Por um lado, o filme oferece alguns lampejos que levam a
narrativa para além dos clichês da Pátria e do herói, como a jovem noiva de
Doss que o confronta (“você é teimoso e orgulhoso. Não confunda a vontade de
Deus com a sua”), o preconceito que ele enfrenta no exército e o fato de ter
sido necessária uma autoridade militar que obrigasse a corte marcial a cumprir
a Constituição americana. Por outro, não é incomum perceber a religiosidade de
Gibson confundir-se com a do personagem, gerando alguns momentos e diálogos
flagrantemente piegas. Também é inegável que a brutalidade das batalhas não possuem
a crueza forjada por Spielberg em O Resgate do Soldado Ryan, mas uma glamourização
da violência um tanto ordinária, típica dos filmes de ação.
Gibson parece ser mesmo um diretor de espetáculo, o que não
parece ser o que uma história como essa necessitava. Perto do final, Doss é
capaz de uma proeza inacreditável (que realmente aconteceu com ele em batalha),
porém Gibson não consegue filmá-la de forma realista, parecendo mais uma
presepada de James Bond, tirando a carga dramática do momento. Vários efeitos
em CGI ruins também não ajudam. Nada disso impediu que o filme levasse seis
indicações e que Mel Gibson já tenha mais um filme engatilhado para dirigir. Enquanto
o homem der dinheiro pro estúdio...
INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Diretor: Mel Gibson
Ator: Andrew Garfield
Montagem: John Gilbert
Edição de som
Mixagem de som
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