terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Os filmes do Oscar: ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (3 indicações)


Por Ricky Nobre



A negritude, cuja a ausência foi a grande polêmica do último Oscar, está mais relevantemente presente este ano. Ao menos três filmes trazem não apenas artistas negros, mas têm a questão como tema central. Um deles é a história das mulheres negras cujas fantásticas contribuições ficaram apagadas na história da NASA. 

 

Estrelas Além do Tempo (a cafona versão nacional para o brilhante e intraduzível título Hidden Figures) acompanha a trajetória de três das dezenas de calculadoras negras que trabalharam na NASA em meados do século XX. A escolha das protagonistas não foi aleatória: cada uma foi uma pioneira. Katherine Johnson (Taraji Henson, ótima) calculou as trajetórias das naves dos primeiros americanos no espaço. Dorothy Vaughan (Octavia Spencer, indicada) foi a primeira supervisora negra da NASA e foi responsável pelo operação dos primeiros computadores IBM da agência. Mary Jackson (Janelle Monáe, cantora pé quente que estreia nas telas com este filme e Moonlight, ambos indicados) foi a primeira negra a se graduar engenheira numa universidade para brancos. 

 

Em seu segundo longa-metragem, o diretor Theodore Melfi faz o que é comum nas cinebiografias e demais obras “baseadas em fatos reais”: ficcionaliza. Muito do que se faz é compreensível, como os personagens ficcionais de Kevin Costner e Kristen Dunst, que são amálgamas de pessoas reais combinadas em uma figura única para simplificar a narrativa. As verdadeiras Katherine, Dorothy e Mary, apesar de colegas de trabalho, não eram melhores amigas e não viviam grudadas. Em outro exemplo, por questões dramáticas, as viagens intermináveis ao banheiro segregado feitas, na verdade, por Mary foram transferidas para a personagem de Katherine. A verdadeira Katherine simplesmente ignorava os banheiros segregados e usava os dos brancos. E tendo escolhido Katherine como personagem central, o roteiro dá a ela experiências de racismo entre seus colegas de trabalho que a Katherine real não vivenciou, com o objetivo de contextualizar corretamente a segregação que ainda era lei na virada dos anos 50/60.

 

Muitas das liberdades históricas do filme (como mostrar os departamentos segregados ainda ativos em 1962, quando eles foram extintos pela NASA em 1958), deve se originar do fato de que o livro no qual o roteiro se baseia só foi lançado um ano depois de concluídas as filmagens. Os roteiristas tinham apenas uma sinopse de 50 páginas do livro que ainda estava sendo produzido. Mesmo assim, o filme se sai muito bem no seu objetivo de apresentar essas mulheres e seus extraordinários feitos. A verdadeira Katherine, 100% lúcida aos 98 anos, assistiu ao filme e aprovou o resultado. Porém, o filme falha em ir além do básico esperado de uma cinebiografia hollywoodiana e perde a oportunidade de, por exemplo, analisar o discurso das personagens que dizem se esforçar tanto nos projetos por questões patrióticas (sob a pressão dos sucessivos êxitos soviéticos), tendo em vista que esse mesmo país, por cuja glória tanto trabalharam, as segregaram enquanto mulheres e negras. O filme é obrigatório pela temática, mas é pobre em cinema. 

 

INDICAÇÕES AO OSCAR
Filme
Atriz coadjuvante: Octavia Spencer
Roteiro adaptado: Allison Schroeder e Theodore Melfi from baseado no livro de Margot Lee Shetterly

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