quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Os filmes do Oscar: FLORENCE: QUEM É ESSA MULHER (2 indicaçôes)


Por Ricky Nobre



Florence: Quem É Essa Mulher prova que existem três coisas com as quais podemos sempre contar: com a estupidez dos distribuidores brasileiros em traduzir títulos, que Stephen Frears sempre trará uma história humana inteligentemente filmada e com o brilhantismo de Meryl Streep. 

 

Baseado em fatos reais (mais um!!), o filme fala da estranha história da “pior cantora do mundo”. Durante a Segunda Guerra, a milionária socialite Florence Foster Jenkins (Meryl Streep, o que dizer...) ajudava a manter a cena da música erudita viva em Nova Iorque, com seu Clube Verdi e espetáculos beneficentes. Profundamente apaixonada por música, promovia espetáculos onde ela interpretava as mais difíceis árias, ainda que fosse absolutamente incapaz de sustentar, ou sequer acertar uma única nota. Tendo a admiração e respeito de artistas que iam de Toscanini a Cole Porter, Florence era, por incrível que pareça, um sucesso, seja para os amigos que sempre lhe prestariam elogios, não importando a tragédia de sua apresentação, seja dos que curtiam tudo como uma grande piada. Seu marido St Clair Bayfield (Hugh Grant, ótimo), controlava a venda de ingressos apenas para conhecidos e membros da imprensa dispostos a publicar críticas “amigáveis”. Chegou a lançar 5 discos 78rpm, que foram as maiores vendas da gravadora Melotone. Sua maior extravagância foi um espetáculo no Carnige Hall para duas mil pessoas.

 

Uma das grandes polêmicas em torno de Florence é o quanto ela tinha consciência real de seu “talento”. O filme de Frears parte do princípio de que ela realmente se considerava uma cantora, e das boas. Com alguns momentos mais dramáticos e sutis, o filme se ancora mesmo no tom cômico, e nisso o elenco garante um excelente espetáculo. Simon Helberg, como o pianista que acompanhou Florence nos últimos anos de sua carreira, está impagável. Mas por melhores que estejam seus companheiros de cena, o filme é mesmo de Streep. Ótima cantora (como já mostrou em outros filmes, especialmente Mama Mia), ela mesma foi responsável por todos os inacreditáveis sons emitidos por Florence, sempre gravados no momento da filmagem, sem uso de playback. 

 

Florence é retratada como uma figura fascinante e indomável, que decidiu que seria cantora não importasse o que dissessem, que viveu com sífilis durante 50 anos, contra os prognósticos de qualquer médico da época. Mas tinha também algo de frágil e trágica, não apenas pela inevitável instabilidade de sua saúde, mas também pela relação meramente platônica que tinha com o próprio marido (também por conta da doença), que mantinha seu próprio apartamento com outra mulher. Mesmo assim, Bayfield era profundamente dedicado a ela, não medindo esforços para manter intacta a frágil bolha que separa Florence da realidade de seu talento artístico. 

 

Ainda que Florence se concentre num período muito curto já bem avançado da vida de protagonista, até mesmo condensando excessivamente alguns fatos, ele é um filme leve e despretensioso que deve muito do seu brilho a seu elenco, guiado com perfeição por Frears. E, além de tudo, confirma a urgência da criação de uma lei que proíba Meryl Streep de concorrer ao Oscar, pra poder dar alguma chance para as outras pobres mortais.

 

INDICAÇÕES AO OSCAR

Atriz: Meryl Streep
Figurino: Consolata Boyle

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