sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Os filmes do Oscar: CAPITÃO FANTÁSTICO (1 indicação)


Por Ricky Nobre


E mais uma vez um dos melhores filmes do ano recebe uma indicação solitária de consolação. Viggo Mortensen concorre a melhor ator interpretando o fantástico pai de três filhos e três filhas que cria e educa os rebentos de um jeito, digamos assim... um tanto... peculiar. Vivendo no meio do mato, Ben ensina os filhos de 5 a 17 anos (com nomes de fazer inveja à prole de Baby e Pepeu) a viver em comunhão com a natureza, caçar, técnicas de sobrevivência, pesado treinamento físico, literatura, política, sociologia, filosofia, física quântica... É uma espécie de comunidade hippie anabolizada. Sofrendo de transtorno bipolar, a mãe das crianças permanece hospitalizada por alguns meses. No caminho para visitá-la, Ben descobre que ela cometeu suicídio. Ao saber que seu desejo final de ser cremada não seria respeitado pelos pais, a família parte para uma missão de resgate do corpo da mãe.

 

A direção e o roteiro de Matt Ross (vencedor de melhor diretor na mostra Un Certain Regard em Cannes) lançam um olhar extremamente simpático a Ben, ainda que seus métodos pedagógicos sejam, muitas vezes, questionáveis ou simplesmente absurdos. Essa simpatia é vital para manter na mente do espectador o fato de que aquelas crianças realmente idolatram os pais, ainda que alguns conflitos aconteçam. Pode parecer terrivelmente chocante para parte do público a alegria da garotada em receber armas brancas de presente no Dia de Noam Chomsky (que eles celebram em vez do Natal); ou a forma chocantemente direta que ele responde perguntas sobre sexo ou morte, mesmo para as crianças mais novinhas, sob a justificativa de que ele não mente para os filhos; ou ainda, a brutalidade do treinamento físico, que poderia ser considerada abuso infantil em qualquer sociedade civilizada.

 

Ao mesmo tempo em que ele incentiva constantemente o pensamento crítico (a cena em que Kielyr analisa Lolita é perfeita), Ben por várias vezes impõe sua autoridade de forma severa, anulando os questionamentos que ensinou os filhos a ter. Ben quer que suas escolhas na criação dos filhos sejam respeitadas, mas não se furta até mesmo a humilhar uma família que tem padrões e hábitos típicos do americano médio, ainda que, ao fazê-lo, exponha de forma muito clara a absoluta tragédia que é o sistema educacional americano. 

 

Muitas das críticas ao filme vêm com o argumento de que ele acaba, com seu humor e imensa simpatia, por celebrar uma forma de educação brutal e abusiva. Mas o diretor Matt Ross conta com a capacidade do público em ler sutilezas. Se Ben criou uma filha de 8 anos capaz não só de recitar, mas de discutir com inteligência a Carta de Direitos americana, criou também um filho de 17 anos completamente destituído de habilidades sociais, capaz de passar para as sete melhores universidades do país, mas sem ter a permissão do pai de cursar alguma. O público percebe isso e, quando várias coisas começam a dar errado, fica claro que algo naquela família precisa ser repensado, a ponto do sogro, retratado todo o tempo como o vilão, acabar soando como a voz da razão. 

 

Ben precisa enfrentar a realidade de que não criou seus filhos para o mundo real. Mas para que espécie de mundo a educação “normal” forma as pessoas? Uma coisa que fica inquestionavelmente clara é o quanto o amor está presente naquela família, e o quanto o amor guiará as decisões que Ben precisa tomar. Pais e mães, mesmo falhando, e muito, tentam fazer o melhor que podem, o que sabem fazer. E só dá pra aprender errando. 

 

INDICAÇÃO AO OSCAR

Ator: Viggo Mortensen

 
 Em praticamente todos os tapetes vermelhos, o elenco do filme "deu o dedo" pra todo mundo!

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