domingo, 26 de fevereiro de 2017

Os filmes do Oscar: LA LA LAND: CANTANDO EM ESTAÇÕES (14 indicações)

Por Ricky Nobre 



 La La Land é a grande polêmica do Oscar deste ano. Não por algum tema controverso abordado ou qualquer coisa do gênero. A questão com o filme que levou 7 Globos de Ouro e tem 14 indicações ao Oscar é o imenso hype em torno dele, com muitos elevando-o ao status de obra prima ao resgatar os musicais de Hollywood, enquanto outros o apontam como um embuste meramente estético e destituído de qualquer profundidade ou mesmo de valor próprio, sustentando-se meramente sobre suas pilhas de referências. Amar ou odiar La La Land virou um Fla X Flu cinematográfico, onde cada “lado” se acha mais cool do que o outro. Soterrado nesses escombros encontra-se um filme simpático e bonito, cuja magreza do roteiro, porém, não o permite alçar à grandeza que lhe seria possível. 

 

Em Los Angeles (onde mais?), Mia (Emma Stone) é uma jovem atendente na cafeteria de um grande estúdio, que saiu de casa muito nova para tentar a sorte como atriz, tomando toco atrás de toco em sucessivos testes de elenco. Sebastian (Ryan Goslin) é um pianista que não larga suas radicais visões sobre jazz nem para manter um emprego num restaurante, enquanto as contas vencidas vão se empilhando, deixando-o mais longe do sonho de abrir seu próprio clube de jazz. Entre números de canto e dança, eles se conhecem, se apaixonam e passam a incentivar os sonhos um do outro. A questão é o que será da relação deles à medida em que o sucesso vai se aproximando. 

 

Para o diretor e roteirista Damien Chazelle, um desafio tão grande quanto realizar uma homenagem à altura dos clássicos musicais hollywoodianos era superar, ou pelo menos se igualar, à obra prima que foi seu filme anterior, Whiplash, um dos melhores filmes da década, que também tinha o jazz como foco central. Em La La Land (uma expressão que se refere tanto à cidade de Los Angeles quanto a um estado da mente daquele que vive num mundo de sonhos, incapaz de encarar a realidade), Chazelle investiu pesadamente no visual, concebendo um filme radiante, muito colorido e lindo de se ver. Repetindo a parceria de Whiplash, o diretor chamou o compositor Justin Hurwitz, que criou uma série de melodias que farão o público sair cantarolando do cinema.  Em meio a números musicais repletos de referências a filmes clássicos, Mia e Sebastian se apaixonam sem que entendamos muito bem porquê. Mia é engraçada e adorável, enquanto Sebastian é grosso e antipático. Nada, a princípio, impediria um romance entre personagens assim, mas o roteiro falha em construí-los e desenvolvê-los o suficiente. E assim como falha em construí-los como casal, falha ao criar-lhes obstáculos, apostando, a princípio, em uma grotesca falha de comunicação que pode não convencer parte do público.

 

Profundidade nunca foi exatamente a qualidade que definia os antigos musicais, mas La La Land parece, sem muita pretensão, mas em alguma medida, querer construir uma visão mais moderna, começando pela decisão de ambientá-lo nos dias atuais. Quando Sebastian diz que “Los Angeles é um lugar onde se venera tudo mas não se valoriza nada” e, mais adiante, ouve de um amigo “como você quer ser revolucionário sendo tão tradicionalista?”, ou mesmo pela própria escolha do título do filme, Chazelle parece querer nos dizer que não existe espaço para o lindo mundo de sonhos que Hollywood vendia há 60, 70 anos, pelo menos não exatamente daquela forma, e com certeza a decisão do roteiro sobre o destino do casal veio justamente dessa ideia. 

 

E talvez o ponto chave do enorme sucesso do filme venha justamente daí. La La Land é um filme divertido e simpático com um final brilhante. Já aconteceu várias vezes antes de filmes excelentes terem finais ruins, e a sensação do público é a de que viu um filme horrível. Na mesma medida, filmes medíocres com finais excelentes deixam a impressão de uma ótima experiência. Boa parte do público e da crítica está saindo de La La Land com a impressão de que viu algo extraordinário, ainda que com um gosto agridoce na boca, quando apenas viram um bom filme. Chazelle falha não apenas no roteiro mas também no elenco pois, uma vez que Goslin oferece uma atuação apenas adequada e não sabe cantar (sua indicação é tão absurda quanto a de figurino ou do próprio roteiro), Stone acaba simplesmente tomando o filme para si, brilhando na interpretação, canto e dança. Com melhor desenvolvimento dos personagens e do que seria capaz de uni-los ou separá-los, La La Land poderia ser realmente um grande filme. Mas é, sem sombra de dúvida, um filme concebido e realizado com paixão e, em boa medida, o público sente isso, pois com paixão o ama ou odeia.

 

INDICAÇÕES AO OSCAR

Filme

Diretor: Damien Chazelle

Ator: Ryan Goslin

Atriz: Emma Stone

Roteiro original: Damien Chazelle

Música original: Justin Hurwitz

Fotografia: Linus Sandgren

Montagem: Tom Cross

Canção original: Audition (The Fools Who Dream) Música de Justin Hurwitz, letra de Benj Pasek and Justin Paul

Canção original: City of Stars, Música de Justin Hurwitz, letra de Benj Pasek and Justin Paul

Edição de som: Ai-Ling Lee e Mildred Iatrou Morgan

Mixagem de som: Andy Nelson, Ai-Ling Lee, e Steve A. Morrow

Desenho de produção: Sandy Reynolds-Wasco e David Wasco

Figurino: Mary Zophres


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