quarta-feira, 31 de outubro de 2018

SOBRE FECHAMENTO DE LIVRARIAS



Texto do cartunista e ex-editor da revista MAD, Ota Assunção
(Postado originalmente no Facebook)

"Não fico feliz com o fechamento de lojas de redes como a Saraiva, como não fico com o fechamento de qualquer livraria.
Já aconteceu com outras redes como a Laselva, aconteceu recentemente com a Fnac e algumas lojas da Cultura, esta ainda sobrevive com aquela linda loja no Conjunto Nacional e talvez mais algumas.Travessa se mantém incólume por enquanto.
Mas lamento muito mais o fechamento que nunca é noticiado de livrarias pequenas, aquela que você é bem atendido pelo livreiro, que recomenda leituras e fica seu amigo, Estas já estão sucumbindo há tempos pois foram engolidas por essas mesmas redes que estão fechando.

As redes e sites como Submarino etc criaram um modelo autofágico e só poderia dar nisso. Começaram a exigir descontos enormes das editoras (em alguns casos mais de 60%) o que puxou o preço de capa dos livros pra cima. Pra não ter prejuízo o "multiplicador" foi às alturas. Multiplicador é quanto a editora precisa colocar o preço do livro pra ter algum lucro. Se antigamente era só multiplicar por 4, agora é de 7 pra cima. Senão não fecha a conta. Com o fechamento da porteira das compras do governo (atenção, isso já vinha desde o governo Dilma) a situação se complicou para os donos das editoras, que estão demitindo em massa porque também não recebem das redes e a roda não gira.

Ou seja, o negócio dos livreiros e editores, que era uma coisa idealista, virou uma coisa de supermercado. As editoras deixam de investir em autores novos porque "livro de youtubber dá mais certo", Nas bienais do livro tem mais palestra de celebridades do que de autores e o público é tudo cosplayer. O que menos tem é Literatura com L maiúsculo. Só dá certo saldão de livro que custava 100 e tá na promoção por 10. E priorizando nos estandes os livros caça-níqueis da moda
Enfim, é isso o que o mercado se tornou. Agora todos lamentam, mas isso começou bem antes. Os donos das editoras e livrarias, que eram idealistas como o Ênio Silveira e a D, Vanna Piraccini foram substituídos por executivos engravatados que tanto podem gerenciar editoras como fábricas de papel higiênico ou farmácias populares. Ou mesmo os que têm uma preocupação cultural são forçados a aderir à onda dos youtubbers pra não sucumbir de vez.

Mas público há, apesar de sermos um país de uma maioria não-leitora. O que não tem é dinheiro pra pagar esses preços absurdos praticados atualmente. Aí o dono vê o balanço e pensa: hum tá no vermelho há vários meses melhor fechar tudo e investir em outra coisa (como por ex fábricas de armas que estão em alta). Não dá pra ter muita pena deles.

PS falei em papel higiênico mas não é nada contra a Melhoramentos, que entre outras coisas da holding fabrica papel higiênico aproveitando sua estrutura "do pinheiro ao livro" mas ainda resiste como uma boa editora."

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